domingo, 22 de fevereiro de 2015

Deixe que o beijo dure. Deixe que o tempo cure.

Ele me trazia paz. De longe, essa era o maior dos seus defeitos. Pode não parecer fazer sentido, mas fez. Eu não consegui dormir na noite passada. Sei que, para alguém que sofre de insônia desde a infância, isso não deveria ser grande coisa, mas foi.  Foi grande coisa porque eu não consegui dormir lembrando dos telhados.

Era nosso primeiro encontro formal e eu sempre fui uma menina com pouca inteligência interpessoal. Já havia cometido todas as minhas mancadas de quando conheço alguém que desperta meu interesse e ainda assim ele quis ir além. Ainda assim ele quis entrar na minha vida.

Ganhou-me ali. Ganhou-me sem sequer ter tocado em minha mão. Questionei-me quase a noite inteira até onde eu já havia me mostrado para ele, uma vez que ele parecia conhecer minha paixão pela noite, pelas luzes, pelas cobertas das casas estranhas e espalhadas pela cidade. Eu ainda não sabia o que fazer com meus olhos, com minhas mãos e me mantive atenta e taquicardíaca a cada detalhe.

Meu coração bobo, criança, de quem precisa se lembrar o tempo todo que não deve se apaixonar, se derreteu quando pisou os pés naquela cobertura. Éramos eu, ele, uma garrafa de vinho e os telhados pra olhar. Era lindo. Nem sei dizer se a cidade ou se ele, se aquele momento ou se aquilo que eu senti. Não havia nenhuma música mais linda que aquele silêncio. Eu poderia narrar cada centímetro de cada coberta de cada casa daquela noite e daquele lugar.

Ele sabia tanto de mim enquanto eu nada sei dele, mesmo agora.

Não sei se é falso ou sincero, sei que não pode continuar. Sei que a segurança que sinto dentro do seu abraço na verdade é o maior risco que corro. Sei que a paz que me inunda em sua presença, meu riso frouxo, meu pouco tato, minha timidez repentina e minha vontade de ser amada não podem ser saudáveis, porque não é saudável se encontrar assim em ninguém que não eu mesma.

Porque sei que é suicídio se jogar de cabeça num poço claramente vazio.

Porque temo conhecê-lo, mesmo ele me conhecendo como a palma de sua mão.

Porque a constância dele em minha vida já me assusta.

Porque eu não desvendo o que dizem os seus olhos.

Porque eu não posso estar apaixonada.

Por ele, não.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Não, eu não sei se gosto ou se não gosto

Você me deixa um pouco tonta
Assim meio maluca
Quando me conta
Essas tolices e segredos
E me beija na testa
E me morde na boca
E me lambe na nuca
Você me deixa surda e cega
Você me desgoverna
Quando me pega
Assim nos flancos e nas pernas
Como fosse o meu dono
Ou então meu amigo
Ou senão meu escravo (...)
E assim me faz perder-me
E nem saber se esses carinhos
São suaves ou velozes
Se o que escuto é o silêncio
Ou se ouço vozes.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A sky full of stars

Cheguei a conclusões sólidas, pela milésima segunda vez na vida. Tenho tido a impressão que meu tempo passa cada vez mais depressa, talvez pela quantidade assombrosa e instigante de coisas que tenho para fazer, pensar e planejar. Tenho me perdido na ordem dos verbos, por vezes até mesmo priorizando os errados. Todavia, também tenho me perdoado. Cada vez fica mais difícil discernir o que é o que, além de que não tenho tempo para meditar sobre o conceito de nada. Pela primeira vez, sinto-me como se eu já devesse ter todas as minhas classificações milimetricamente ordenadas de modo a diferenciar até os mais próximos tons e nuances. Encontrei certezas quase incontestáveis e verdades que vão além do inconfessável. Alguns medos também, mas poucos. Deixei a maioria dos medos no caminho, foi minha atitude mais honrável, desapegada e inconsequente. Quando a gente não tem o que temer, o céu é o limite. E o céu sempre foi o limite pra mim, embora sempre tenha sido, também, um medo. Parece que meu céu sempre esteve ensolarado demais para que eu pudesse olhar para cima e ,agora, finalmente enxerguei aquele crepúsculo baunilha que me fascina mais do que qualquer outra coisa. Eu posso ver o céu ainda que feche os meus olhos. Descobri um fascínio em arriscar, espero que passageiro, minha meta de equilíbrio não me permitiria viver sempre assim. Mesmo que eu tenha sido feliz como poucas vezes fui. Mesmo que diante de adversidades que outrora julguei que me derrubariam. Não sou fácil de cair, descobri. Descobri e descubro todo dia um pouco mais. E as mudanças que noutros dias me fariam tremer de insegurança, agora são como estrelas no meu céu. Eu sempre sonhei com constelações lindas. E agora eu torço por mudanças drásticas e formidáveis. Eu sempre almejei a lua e as estrelas mais bonitas, onde eu pudesse admirar - com tranquilidade e sem ofuscar minha visão - cada detalhe do que está acima de mim. Por isso prefiro a noite e por isso gosto de esperar o amanhecer antes de me deitar. Até agora está tudo escuro, mas minhas constelações hão de aparecer e eu não peco por esperar. Não me contento com nada que não me traga a noite mais clara, não me contento apenas com outro céu fechado e coberto por nuvens. E quando as estrelas aparecerem, eu serei a primeira a avistá-las.  

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Oito ou oitenta

Não pense que é descaso ou que eu sou uma louca que não decidiu se é sensível ou insensível demais. Mas é que eu tenho corrido tanto e os dias têm estado tão bagunçados. Eu também acabei me bagunçando nos últimos meses, e vai ver que aquela história de virginianos perfeccionistas e cheios de manias seja verdade. É verdade também que eu não queria te deixar confuso, que eu queria te passar minhas certezas por osmose e queria que você entendesse o pedido de desculpa quando eu olho pra baixo por dois segundos e depois volto a olhar nos teus olhos. Queria que você me perdoasse, também, pela quantidade incontável e assustadora de erros que cometi. É que está apaixonada é a melhor e pior coisa do mundo ao mesmo tempo, talvez por isso eu goste tanto, talvez por isso eu não saiba o que fazer. Extremista de carteirinha, não consigo criar dentro de mim um meio termo que te passe segurança. Não consigo que passe pela minha garganta esse amontoado de palavras que agora te escrevo. Ou falo demais, ou não falo nada. E, cara, depois de tudo, eu tenho optado por não pecar pelo excesso. Tenta me entender, passaram-se quatro anos desde a última vez que abri meu coração, e nunca vou me esquecer de algo que te disse naquela tarde: “confia em mim, vou ser uma mulher bem resolvida antes dos vinte”. Ta aí. Hoje, às portas dos 23, peço a Deus para que você não tenha confiado, porque eu confiei e quebrei a cara. Não quero perder minha credibilidade. É que isso de reencontro e, poxa, logo agora, quando eu me sinto tão inconsistente, eu fico com medo de dar algum passo e acabar botando tudo a perder, como eu julguei ter botado quatro anos atrás. Mas permaneceu, sabe? Acho que ficou no meu travesseiro, porque sempre lembrava de você quando deitava pra dormir. Todas as noites, sem exceção. E sendo bem sincera: eu te parabenizo por ter sabido lidar comigo melhor do que eu mesma pude. Você me conhece, sabe que eu sou problema. Mas também sabe que eu sou amor. Então, espera? Dê-me mais cinco minutos até eu decidir o que faço com a minha vida nos próximos cinco anos.

sábado, 6 de dezembro de 2014

I'll let you love me

Não tem problema, vai por mim. Entre os meus tantos defeitos, tenho a qualidade de ser sincera, eu não diria que tá tudo bem se não estivesse. Minha mente tá tranquila, eu tô em paz. Mas é que eu tenho esse meu jeito meio agitado e meio parado demais, e isso às vezes acaba confundindo as pessoas. Ouve o que eu te digo: é tudo verdade. É verdade que eu te dou aval para tudo. Você pode me acordar no meio da noite com um telefonema, ou interfonando dizendo que vai subir. Não tem problema, se você não tiver problema com minha voz e cara de sono, nem com o meu pijama velho de quem não sabia que ia receber visita. Você pode me falar dos teus problemas e de como vai tudo errado e daquela briga que pegou com o seu chefe. Você pode beber demais, me falar coisas sem tanto sentido e que vai se arrepender no outro dia, eu te prometo que – no máximo – só vai me render umas boas risadas. Pode me apresentar aos teus amigos e tios chatos, pode escolher o nome do nosso primeiro filho. Entende meu jeito, é o que eu peço. Eu te dou aval para ir naquela choppada da turma sem mim, justo no final de semana que eu estiver fora. Eu te dou aval para não gostar dos mesmos livros e discos que eu (exceto o Dark side of the moon). Eu te dou aval para não querer ir ao cinema e até para reclamar do meu café. Mas, por favor, não me transforma em outra menina chorando sozinha numa cafeteria enquanto come uma torta de chocolate. Seja verdade. Eu te dou todo o aval do mundo para me fazer feliz.