segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Comigo


"Quando o sol se vai, a lua amarela
Fica colada no céu, cheio de estrela
Se essa lua fosse minha
Ninguém chegava perto dela
A não ser eu e você
Ah, eu pagava prá ver
Nós dois no cavalo de ogum
Nós juntos parecendo um.
Na lua, na rua, na nasa, em casa
Brasa da boca de um dragão...
Você vai comigo aonde eu for
Você vai bem, se vem comigo
Serei teu amigo e teu bem
Fica bem, mas fica só comigo.
Quando o sol se vai a lua amarela
Fica colada no céu, cheio de estrela
Se essa lua fosse minha
Ninguém chegava perto dela
A não ser eu e você
Ah, eu pagava prá ver
Nós dois no cavalo de ogum
Nós juntos parecendo um...
Na lua, na rua, na nasa, em casa
Brasa da boca de um dragão."

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Só porque eu acordei com vontade de dar um abraço bem apertado em Joseph. E quando liguei o som com essa música, não me veio outra pessoa em mente.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

2:48 am

Ela acabara de acordar no meio da madrugada e só agora percebia que ainda estava com o mesmo vestido que saíra ontem à noite.

As imagens voltavam aos poucos, ela ainda se situava no espaço real, mas os flashes das lembranças do dia anterior não lhe saíam da cabeça.

“Que horas são?” pensou. Então se virou para o lado da mesinha de cabeceira, onde o relógio estava; ao fazê-lo, bateu a perna esquerda em algo que estava sob a cama. Um porta-retrato talvez? Decidiu que seria melhor se levantar, acender a luz e ver o que havia derrubado. Mas a cabeça lhe doía tanto que resolveu descansar mais um pouco.

Uns dez minutos depois se levantou, e ao colocar os pés no chão viu que o mesmo estava tomado por papéis. Ligou a luz. A cama estava repleta de restos de fotografias (agora rasgadas), um porta-retrato quebrado no chão de um lado da cama e do outro inúmeras cartas jogadas. Inúmeras juras de amor eterno, o tipo de “amor eterno” onde a eternidade acaba no meio do percurso.

Então ela chorou. Mais uma vez ela chorou. Lembrou do rosto dele. Lembrou porque estava tudo bagunçado daquele jeito. Lembrou porque sentia seu frágil coração tão pequeno e apertado. Por fim: lembrou o quanto o amava.

Ela o amava, ele talvez também a amasse. Mas isso não mais era bom. Para nenhum dos dois. Tudo estava acabado entre eles. Cada vez mais a saudade se fazia presente, mas de que adiantaria continuar insistindo num erro?

O destino já havia provado por A mais B que eles não deveriam ficar juntos, por mais que o quisessem. De nada adiantava a fé em tanto amor se a vida não os presenteou com a sorte.

Triste ter que admitir que eles chegavam ao ponto mais crítico de um coração apaixonado: aceitar que as paixões podem, sim, ser passageiras; que não dá mais; que por mais que nós amemos uma pessoa, não podemos deixar que esse sentimento tire de nós a racionalidade.

E foi aí que decidiram romper aquele relacionamento. Ela estava profundamente triste com aquilo tudo, mas sabia que nada podia fazer para mudar aquela situação que já se tornara irreversível. Sabia que aquela realmente era a hora ideal para abrir mão de um amor que só a trazia sofrimento e angústias.

Ela sentou na cama novamente, sentia os ossos quebrados. “Um mais um é bem mais que dois”, repetia mentalmente, de acordo com o que sua outra metade a tentava convencer que ela, SOZINHA, poderia ser mais que dez, cem, mil...

Pegou então o porta-retrato que anteriormente havia deixado cair no chão. Admirou a foto por uma fração de segundo. Com passos rápidos se dirigiu até o banheiro, ainda com a fotografia em mãos.

Chegando em frente ao espelho, sorriu para seu reflexo sutilmente. Sentiu-se estúpida por um instante, teve vergonha de si. Olhou para seu reflexo mais uma vez, e comparou sua expressão atual com a daquela imagem que via dentro daquele retângulo de vidro trincado. Teve uma certeza: “Nunca mais vou ser feliz de novo”.

Voltou ao quarto, tirou tudo que estava em cima da sua cama, jogou os pedaços de cartas, fotografias, vidro quebrado e todo esboço de alegria que lhe restava, dentro do cesto de lixo. Desligou a luz, deitou-se calmamente, adormeceu com a esperança de não mais acordar.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Aviso prévio

- Alô? (...) Olha, amor, eu sei que você está aí, então me atende, por favor. Tenho tanta coisa pra contar, tanta coisa pra saber... Tem sido tão difícil para mim depois que você foi embora. Sabe que até aquele filho seu, que eu tirei, eu senti falta essa semana? Só agora eu reparei que não devia ter abortado, aquela criança serviria ao menos de lembrança de você, ou até mesmo de companhia pra mim agora! Eu te mandei algumas cartas nesses últimos meses, todas voltaram pra mim, e só depois eu percebi que o endereço de destinatário que eu havia posto era o meu próprio, como se você morasse aqui. De fato, mora. Mora aqui, sim. E eu fico só esperando o momento em que você vai entrar pela porta dos fundos, com a chave que você deixa escondida debaixo do tapete da entrada, sem precisar nem me chamar; e eu, então, vou olhar pra você e dizer: “nossa, amor! Que demora, foi comprar ou fazer o pão?” e você vai rir e me beijar. (...) Mas não, se ao menos eu ainda tivesse aquele filho, aquele pedaço seu e meu num só corpo que não chegou nem a ser formado. Sabe, eu comecei a freqüentar assiduamente meu psicólogo, só que mais tarde ele me explicou e tentou me convencer que um psiquiatra seria mais indicado a mim. Nunca entendi exatamente o porquê, ele sempre falava na minha depressão profunda, derivada de minhas desilusões contínuas e de alguns complexos que eu nem ao menos tentei decorar os nomes. Mas acho que ele estava equivocado, porque eu to bem, amor, eu to feliz, eu só estou um pouco só. Eu acabei indo ao psiquiatra, e até gostei bastante dele, ele me passa uns remédios que me acalmam, que me fazem esquecer um pouco de você... de você e daquele filho, do nosso filho, que não chegou nem a nascer. Ah, amor, eu falo tanto de você e daquele filho, do filho que eu não tive! Falo pro psiquiatra, pro psicólogo, pras pessoas que encontro na rua, nos ônibus, nos bancos das praças, nas mesas de bar. Eu parei de tomar Martini rosé, amor. Lembra que você falava que era ruim, lembra? Então, eu parei de tomar. Eu não gostava mais de ver aquela cor, não suportava mais aquele vermelho. Aquele vermelho que me lembrava do nosso filho, sabia que o chão do meu banheiro parecia Martini? Uma duas ou três garrafas de Martini derramadas, mas não era. Era só a mistura do meu sangue, do nosso sangue, do sangue do nosso filho, derramado e misturado com a água que caia do chuveiro. A água do chuveiro que escorreu sobre mim por muito tempo, mas não tempo o bastante pra fazer de mim menos suja. Nossa, amor, nem te falei! Naquele dia alguns dos pedaços do nosso filho ficaram ali no banheiro, eu até distingui uma mãozinha ali no meio, parecia com a sua, amor! Nosso filho ia ser tão lindo quando você, sabia? E ele me faria companhia assim como você me fez, e depois me deixaria sozinha assim como você me deixou. Desculpa, amor! Eu não quis dizer isso. Você não me deixou sozinha, deixou nosso filho comigo... e eu o matei, amor. Me perdoa por ser uma assassina? Depois eu peguei nosso filho do chão e joguei no lixeiro perto da garagem, lá fora. Eu segurei a mãozinha dele ainda, tão pequena que se perdia dentro da minha. Deus vontade de guardar, amor, tanta vontade de por ele de volta dentro de mim. Aquele pedacinho que me restava de você. Eu deixei o que sobrou do nosso filho no lixeiro, como um resto de comida estragada, ou como um objeto quebrado e sem utilidade. Deixei sua única lembrança concreta lá fora, no lixo. Mas normal, amor! Depois eu entrei, liguei a TV, e chorei. Não Martini rosé, dessa vez foi um dry Martini, com vodka. Muita vodka. Era forte e me deixou bem tonta, assim como a vodka me deixa. Era um choro tão transparente, mas tão impuro ao mesmo tempo. Pude me embriagar de tristeza naquela noite. Dormi profundamente e acordei com tanta dor-de-cabeça, realmente eu chorei dry Martini... e com mais vodka do que eu pensava. Amor, eu vou ter que desligar, preciso comprar meus remédios, e sabe? Acho que quero ver minhas mãozinhas soltas, assim como eu vi as do nosso filhinho (que lindas que seriam as mãozinhas dele), mas eu sou tão covarde, amor! Eu não dei calmantes, analgésicos, nada, antes de matar nosso bebê. Eu apenas o matei, friamente. Ele deve ter sentido tanta dor, amor. Mas não, antes eu vou tomar remédios que garantam-me força quando eu ver minhas mãos soltas. Mas amor, me faz um favor? Liga pra alguém, avisando que venha me buscar e que me jogue naquele lixeiro perto da garagem, lá fora, ta? Você me jogou no lixo na hora errada, amor. Volta agora e me joga no lixo certo! Eu vou encontrar nosso filhinho agora, ele já deve ta grande, parecido com você. Depois, se quiser nos encontrar, solta suas mãozinhas e pede pra alguém te jogar lá, tá, amor? Nós seremos uma família feliz, e eu não mais estarei sozinha. Te amo, amor. Adeus.