sábado, 25 de setembro de 2010

Eu sou bailarina... ele é funcionário.

* Chico Buarque que nos perdoe... mas nossa preferência é o ballet clássico.


Olha, primeiramente eu quero te agradecer pelo "parabéns" mais lindo que eu já recebi na vida. Acho tão bonitinho receber coisas meigas dos amigos, sinto-me até mais parecida com gente. Muito obrigada, cara! Muito obrigada mesmo. E feliz aniversário de amizade pra gente, né? hihi


Aos demais, segue abaixo o texto que EU ganhei, ok? :*
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Não sei parabenizar, mas sei contabilizar. E ao contrário do que você espalha, Querida Bailarina, sim, os números são muito importantes. A numeração 18, por exemplo: observe a importância que tem.

Este texto é uma humilde oferta. Não chega a ser bem um presente, visto que é um relatório. Uma contabilidade... Um apanhado! Sim, um apanhado das coisas que me fazem lembrar você.

Luas faceiras;
A falta de tradução da palavra estante;
Cabelos longos - que um dia já foram curtos;
Brincar de helicóptero;
Brincar de Mário Bros;
As varandas de uma rede;
Caio Fernando Abreu;
Pizza de 4 fatias;
M. Aydar;
100 Anos de Solidão;
Redes armadas no terraço;
O terraço;
Jornalismo;
Edredom;
Caim - Solimão - Sérgio - Márcia - Andréa;
Brisas Quentes, Ventos Frios;
Invenção de histórias;
"Não, porque nem sempre...";
Aquele projeto de uma história em parceria;
Objetos multifuncionais;
Cantoria;
"Naldinho & Little John";
Um ótimo abraço;
"Se estiver me ouvindo, fala CAJU!";
Temporadas de Caju;
Odaxelagnia;
Piadas;
Rodrigo Amarante;
Keane;
Cîroc;
Hidratação fulltime;
So white as snow;
Ciência Política;
"Acertou quantas questões no concurso?";
Polícia Federal;
Chicabana, rs;
By My Side;
Vitor & Alana & Marcelo;
Escolher um dedo quando horas e minutos são iguais;
She & Him;
Quando alguém se exalta vendo futebol;
Vanessão Maxo;
Santa Chuva;
Kafka;
Xadrez;
Jar of Hearts;
Sousa;
John Lennon;
A história da Velhinha;
Acessoria de Dam&Van;
Little Joy;
Carlinha A.A. / Mona B.A.;
Signos & Quadraturas;
Vênus sabe Deus onde...;
Tarot;
Quando alguém entra em luto por uma bota;
Maria Rita;
Vídeos de celular;
Morangos Mofados;
1408;
"Burn me Alive!";
Your Ex-Love Is Dead;
Regra de 3;
Sono eterno;
Planos de cirurgia plástica;
A Sombra do Vento;
Chico Buarque;
"Acorda, Acorda, Acorda, Acorda...";
Amaranta, Aimê, Lavignia;
"Passa, nuvem negra!";
Laranja Mecânica;
Bolsas;
Desdrobos;
Alguém que já foi do rock;
Prison Break;
Bob Marley;
Uma legião de fãs;
The Carpenters;
Aeróbica no terraço;
"Time-goes-by / so-slowly...";
Diplomatas;
Jogos de montanha-russa;
Óculos bifocal rosa;
Soluções Drásticas;
Rainhas inacabáveis;
Os Bingos;
Triângulo das Águas;
Jussara, Ulla, Gabi, 3Marias (Rita/Ruth/ ?);
Destruição progressiva de aparelho de telefonia móvel;
Pessoas que choram;
Empréstimos que não voltam jamais;
Hoje É Dia de Criticar;
"Pra bom entendedor, meia palavra bas.";
Piracicaba;
Malta (a da Europa.)"
"Cabelo Novo, Vida Nova."
Yoko Ono;
Cantadas Jurídicas;
Alzheimer;
Transtorno Bordeline;
Multiple lovers;
Lasanha;
Escritores de gaveta;

É uma pena que exista mais a ser citado e que, no entanto, não pôde ser. É que minha vagareza atrapalha tudo. Se eu fosse citar, é capaz de o apanhado só chegar na comemoração do ano que vem. Enfim, de todo o coração: feliz aniversário.


Disponível em: http://aqualquernorteousul.blogspot.com

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ah, esses hábitos.

Fazendo a postagem básica de aniversário, que no caso foi ontem, e que, assim como meu blog é o meu reflexo, não poderia ser diferente do aniversário deste. Um dos aniversários mais solitários e tristes da minha vida, com uma saudade enorme de todos os meus amigos que estão longe de mim, tanto por distância como por vida. Uma vontade enorme de dar um abraço na Andréa, de falar que preciso da Thanyse, que amo Ana Clara, que Jéssica ainda me mata de saudades, que sem Joseph, Nilsinho e Arthur as coisas perdem a cor... Que pelo oitavo ano consecutivo, faltou Netinho pro meu aniversário ser completo. Mas normal, a vida segue e nada é perfeito. Ou às vezes nem perto da perfeição consegue chegar, mas enfim. Já dizia Chico Buarque: "a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu", o quarto aqui está arrumado. No mais, vou parar com isso ao menos por hoje. Não postei ontem por falta de tempo, cheguei tarde da aula e o telefone existe justamente para preencher algumas brechas, não é? Tentar, pelo menos. 

Pra finalizar a postagem, quero dizer que estou trabalhando em uma história nova e que brevemente a postarei aqui. Por hoje, deixo apenas a letra de uma música que gosto muito e que devo estar ouvindo pela milésima vez hoje. Erasmo Carlos, querido, é com você:

"Todas as vezes que você passa e nem me vê fico pensando no que eu faria pra ter você. Pra ter você de qualquer forma, de qualquer jeito, qualquer maneira. Você nem sabe que eu estou ficando infeliz, não posso mais guardar comigo os versos que eu já fiz, pra lhe dizer do meu amor. Também fui eu quem lhe mandou aquela flor. Vivo fazendo milhões de coisas, qualquer loucura pra ter você. E os dias passam correndo vou acabar lhe perdendo, preciso descobrir um jeito de chamar sua atenção. O meu melhor sorriso eu dei você não viu, gritei seu nome mas nem assim você me ouviu. Por mais que eu faça não adianta, você nem nota minha existência e os dias passam correndo e de esperar vou morrendo, vou acabar ficando nu pra chamar sua atenção."

Então é só isso, até mais. 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Alice in wonderland

     Eu não sei bem por onde começar e avisar isso de antemão é a única forma que eu arrumo para exteriorizar os meus fantasmas momentâneos. Como sempre, há um vazio enorme dentro do meu peito e receio que esse vazio seja uma das poucas coisas que continua existindo e se fortalecendo dentro de mim. Acordo todos os dias esperando que estes passem logo para que venham os próximos e os próximos e os próximos e “amanhãs” cada vez mais distantes, que me transportem para longe do que sou e do que vivo agora. As horas parecem se arrastar nessa longa espera pelo futuro, pelo tudo que há de vir e nunca vem, e ainda me dói essa esperança de dias melhores. Irrevogavelmente, sinto sua falta. Nada tão intenso e nenhum sofrimento digno de roteiro de filme, mas aquele pedaço faltando de leve. Não um coração, pulmão, fígado... Mas um corte na perna, que pode ser facilmente escondido dos outros, contudo, ainda sente a ardência todos os dias ao tomar banho, ou uma leve inquietação na hora de dormir. E acho estranho isso de você, aparentemente, significar tão pouco para mim. Logo você, o meu príncipe encantado. No começo era pior, bebia sempre que me lembrava da sua voz ou do barulho da fechadura se abrindo quando tu chegavas do trabalho. Bebia, chorava, bebia de novo e acabava adormecendo em meio às minhas próprias lágrimas. Não sei bem explicar, mas era como se o meu país das maravilhas fosse qualquer lugar, desde que eu tivesse você ao meu lado. Sentia-me segura perto de você, protegida, completa e, acima de tudo, eu me sentia feliz. Não só por estar contigo, como também pelo fato de tudo naquele tempo que passamos juntos ter dado certo pra mim. Das finanças à família, passando ainda pelo bem estar no trabalho e a vida sentimental bem resolvida. Porém, depois de você ter ido embora, parece que tudo resolveu te acompanhar e eu fui ficando cada vez mais só, perdida, esquecida e sem sorte. Eu tinha tantos planos feitos para nós dois, tantos momentos únicos encravados em minha mente só esperando a hora de acontecerem. Tantos risos, tantos abraços, tantos “eu te amos” ditos com uma sinceridade ímpar em maravilhosas noites de amor. Passou. Agora eu acordo e contemplo um lugar vazio na cama, levanto, vou até a cozinha e vejo que a casa toda está assim. Tão fria. Tão triste. Abandonei aquele velho trabalho que eu tanto almejava conseguir e que perdeu completamente a graça desde que você se foi, entreguei-me de vez à vida de aposentada e me isolei de vez do mundo. Às vezes imagino caso eu morra aqui dentro, levariam meses para encontrar, ou melhor, notarem a ausência, do meu corpo. Não tenho amigos e passo semanas sem receber telefonemas ou ver ninguém. A única obrigação e responsabilidade que eu tenho é, uma vez por mês, ir à cidade para pagar as contas e fazer as compras necessárias. Além, obviamente, de aguar aquele pé de jasmim que você plantou quando ainda morava aqui, na nossa casa. Evito assistir televisão, poupo-me de programas fúteis ou de ver o apocalipse ao vivo no jornal das oito, e tenho me entregado cada vez mais a hábitos que a gente sempre discutia antigamente, e que não tínhamos direito de por em prática pela falta de tempo. Sabe, toco piano. Componho algumas melodias vez ou outra, mas todas se parecem tanto que desconfio fazerem parte de uma mesma sinfonia. Então, fico com raiva da minha incapacidade, e decido escrever. E por isso eu escrevo poemas, cartas, crônicas, romances, bilhetes, talvez até lembretes pra você e pra mim e pro mundo e pra todo mundo que eu tinha e que os anos me tiraram. Sempre iguais, assim como minhas músicas. E pinto, desenho, flores, casas, paisagens, algumas coisas que eu nem sei o que são e tento por pra fora essa bola de neve de sentimentos que nunca pára de crescer. Nada sai como eu quero. E leio, muito, sempre, quase o dia todo ou até os meus olhos arderem tanto que eu não consiga mais enxergar as letras. O que não tem sido difícil, posto que minha visão anda cada vez pior e que não sei se os óculos ainda servem de nada. Levo essa vida introspectiva e espero você voltar. Por mais que eu saiba que não volte, mesmo que queira, que tu não podes e que não está ao teu alcance. Entretanto eu espero, enquanto vejo todas as outras flores e plantas murcharem e apenas aquele velho pé de jasmim continuar verde e florido. E então me deito, tomo o meu coquetel de calmantes e espero o amanhã chegar, você chegar, as mudanças chegarem, a morte chegar até. Ou isso, ou qualquer outra coisa que ponha um basta a esse sofrimento intenso e infindo, livre de toda e qualquer positividade e maravilhas daquele país que um dia eu ousei viver. 

Esclarecimentos (des)necessários

     Pessoal, só uma nota a respeito de alguns comentários desagradáveis que eu ouvi/li e que gostaria de esclarecer. Primeiramente: o que eu escrevo aqui são apenas estórias, ficção, besteiras que passam por minha cabeça e eu exteriorizo pondo no "papel". Fiquei um pouco chocada ao saber que alguns entendiam o que escrevo como um "meu querido diário". Sei que não é do interesse de ninguém, nem se fosse verdade, mas apenas quis clarear a mente de alguns que não são capazes de discernir as coisas por si só. Segundo: a minha forma de escrever é essa, sei que não escrevo bem e faço isso apenas como um passatempo. Se não te agrada a melancolia ou o "drama" que derramo por cima das coisas, indico que apenas pare de ler. E com a convicção de que amanhã eu não chegarei com um sorriso no rosto, dizendo que aproveitar o dia e sorrir resolve tudo, porque sei que não. Sei tanto, que não quero criar uma névoa ilusória acerca disso com quem lê o que escrevo. Essa é a minha forma de pensar e não adianta eu tentar forjá-la. Acredito que as pessoas devem pensar no futuro, planejar, se programar e não serem um bando de idiotas inconseqüentes. Não, meus caros, "Carpe Diem" não funciona comigo. Então, era apenas isso. Peço que não entendam como implicância minha, enfim. A todos um bom final de semana e até mais.

Só quero um céu bonito pra olhar... e você comigo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Diante da Lei

 Diante da Lei está um guarda. Vem um homem do campo e pede para entrar na Lei. Mas o guarda diz-lhe que, por enquanto, não pode autorizar lhe a entrada. O homem considera e pergunta depois se poderá entrar mais tarde.
— "É possível" – diz o guarda. — "Mas não agora!". O guarda afasta-se então da porta da Lei, aberta como sempre, e o homem curva-se para olhar lá dentro.
Ao ver tal, o guarda ri-se e diz. — "Se tanto te atrai, experimenta entrar, apesar da minha proibição. Contudo, repara sou forte. E ainda assim sou o último dos guardas. De sala para sala estão guardas cada vez mais fortes, de tal modo que não posso sequer suportar o olhar do terceiro depois de mim".
O homem do campo não esperava tantas dificuldades. A Lei havia de ser acessível a toda a gente e sempre, pensa ele. mas, ao olhar o guarda envolvido no seu casaco forrado de peles, o nariz agudo, a barba à tártaro, longa, delgada e negra, prefere esperar até que lhe seja concedida licença para entrar. O guarda dá-lhe uma banqueta e manda-o sentar ao pé da porta, um pouco desviado. Ali fica, dias e anos. Faz diversas diligências para entrar e com as suas súplicas acaba por cansar o guarda. Este faz-lhe, de vez em quando, pequenos interrogatórios, perguntando-lhe pela pátria e por muitas outras coisas, mas são perguntas lançadas com indiferença, à semelhança dos grandes senhores, no fim, acaba sempre por dizer que não pode ainda deixá-lo entrar. 
O homem, que se provera bem para a viagem, emprega todos os meios custosos para subornar o guarda. Esse aceita tudo mas diz sempre: — "Aceito apenas para que te convenças que nada omitiste". Durante anos seguidos, quase ininterruptamente, o homem observa o guarda. Esquece os outros e aquele afigura ser-lhe o único obstáculo à entrada na Lei.
Nos primeiros anos diz mal da sua sorte, em alto e bom som e depois, ao envelhecer, limita se a resmungar entre dentes. Torna-se infantil e como, ao fim de tanto examinar o guarda durante anos lhe conhece até as pulgas das peles que ele veste, pede também às pulgas que o ajudem a demover o guarda.
Por fim, enfraquece-lhe a vista e acaba por não saber se está escuro em seu  redor ou se os olhos o enganam. Mas ainda apercebe, no meio da escuridão, um clarão que eternamente cintila por sobre a porta da Lei. Agora a morte está próxima. Antes de morrer, acumulam-se na sua cabeça as experiências de tantos anos, que vão todas culminar numa pergunta que ainda não fez ao guarda. Faz lhe um pequeno sinal, pois não pode mover o seu corpo já arrefecido. O guarda da porta tem de se inclinar até muito baixo porque a diferença de alturas acentuou-se ainda mais em detrimento do homem do campo.
— "Que queres tu saber ainda?", pergunta o guarda. — "És insaciável". —
"Se todos aspiram a Lei", disse o homem. — "Como é que, durante todos esses anos, ninguém mais, senão eu, pediu para entrar?"
 O guarda da porta, apercebendo se de que o homem estava no fim, grita-lhe ao ouvido quase inerte. — "Aqui ninguém mais, senão tu, podia entrar, porque só para ti era feita esta porta. Agora vou me embora e fecho-a".



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O infinito dos seus olhos me faz encontrar o infinito

Afinidade acontece. Um mesmo signo, um mesmo par de sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira. Afinidade acontece entre seres humanos. A mesma frase dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a certeza das semelhanças entre o que se canta e o que se escreve. Afinação acontece. Um mesmo acorde, um mesmo som, uma mesma harmonia. Afinação acontece entre instrumentos musicais. A mesma nota repetidas vezes, a busca pela perfeição sonora e a certeza das similaridades entre um tom acima e um tom abaixo. A incrível mágica acontece quando os instrumentos musicais descobrem afinidades humanas entre si no mesmo instante em que os seres humanos descobrem afinações musicais dentro deles mesmos.

Fernando Anitelli

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Pequenas Epifanias

"Miudinhas,
quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia."
(Caio Fernando Abreu) 


Primeiro veio a chuva. Eu estava sentada num banquinho da praça central quando começou, mas não me movi um só centímetro. Tinha saído do trabalho mais cedo naquele dia, ou melhor, naquela semana quase inteira. Minha cabeça estava superlotada de problemas, não bem problemas, mas idéias tortas, brutas, precisando de tempo e dedicação para lapidar e transformar em algo saudável. Conversei com Joseph, o meu chefe, pra repor as horas perdidas depois, expliquei por alto que precisava de um tempo pra mim e ele não discutiu. Então é onde eu volto para o início da questão: primeiro a chuva. Não, primeiro pegar a bolsa, sair da empresa, caminhar algumas ruas, olhando vitrines sem observar o que havia por trás delas, olhando pessoas sem o interesse ou atenção necessária para se imaginar o que haveria por trás dos seus sorrisos tortos e do encontro dos seus sapatos com o chão. Foi então que entrei na primeira livraria que me surgiu pelo caminho e procurei um livrete de auto-ajuda qualquer, para tentar ao menos clarear o vendaval de pensamentos que assolava meu cérebro. Mais uma vez volto ao início: agora, não primeiro, mas segundo, terceiro, quarto, sei lá... a seqüência dos fatos não importa: a chuva. Eu tinha parado naquele banquinho da praça com o intuito de dar uma folheada na minha mais nova aquisição material e tão logo sentei a chuva chegou. Então eu apenas continuei ali, quietinha. Coloquei o livrinho dentro da bolsa e fiquei sentada, sentindo a chuva cair no meu rosto e ensopar o meu suéter. Confesso que eu não havia reparado que o céu estava nublado antes, há tanto eu não parava para observar o céu, nem a lua, nem Vênus, nada. Cruzei as pernas, levantei o rosto e fiquei sentindo a água, como se ela fosse adentrar em meu corpo e quem sabe me dar um banho por dentro, levando de mim toda essa sujeira, pondo ordem em toda essa bagunça e levando nas ondas desse mar tudo que não mais me servia. E eu sorri. Continuei naquela chuva por muito tempo, e não me peça para definir o que é “muito”, pois eu sinceramente não tenho idéia de quantos minutos passei ali. Talvez pelo fato de eu ter aproveitado cada segundo e depositado todo o interesse e atenção que eu não dei às pessoas que passaram na rua à cada gota de chuva que caia sobre mim. E foi bom. E eu me senti tão mais leve, tão mais limpa. Abri os olhos e contemplei aquele cenário magnífico que se dispunha à minha frente naquele momento: a chuva, as folhas das árvores balançando, aquele barulho agradável, algumas pessoas passando rapidamente com seus guarda-chuvas, outras também passando rapidamente sem seus guarda-chuvas e ainda outras me olhando estranho como quem questionava o que eu estava fazendo ali. Eu tive vontade de sorrir para elas, mas não o fiz. Continuei calada, pensando e observando e achando que aquela talvez fosse a primeira epifania da minha vida. Foi então que ele veio, na verdade não veio, apenas passou como tantos outros. Mas um amor de outras vidas nunca passa por acaso, e eu poderia o reconhecer mesmo se estivesse vendada. Eu virei para poder olhá-lo melhor e dessa vez eu sorri. Ele sorriu de volta, sem jeito, e continuou andando.
- Hey!
- Eu?
- É.
Então ele veio. E trouxe consigo todas as certezas que me faltavam. Continuei sorrindo e ele sorrindo de volta, mas ainda sem jeito. Théo tirou os óculos e os segurou fora do rosto de forma engraçada, acho que sem saber ao certo de qual forma enxergaria mais nitidamente, e ao fazer isso eu me deparei com o par de olhos mais lindos e marcantes que eu vi durante toda a minha vida. Não dissemos nada um ao outro, apenas ficamos calados e foi como se o nosso silêncio e aquela chuva justificassem tudo que havia ali. Ficamos parados, imóveis, olhando a água cair, vez em quando um olhando o outro e desviando o olhar ao notar que o outro percebia, como duas crianças. Ele sorriu, dessa vez não sem jeito, e eu notei que era com ele que eu queria passar o resto dos meus dias. Contudo, não, eu não acredito em amor à primeira vista. Só que não foi à primeira vista, entende? Eu já o conhecia, ele também já me conhecia. Porém só numa tarde chuvosa como a de hoje o destino tratou de fazer nos encontrarmos. Talvez por algum motivo especial que eu desconheça, mas que tenha transformado esse encontro em algo único, mágico. Théo se levantou e perguntou:
- Você vem?
- Para onde?
- Não sei. E então, você vem?
Eu não precisei falar nada. Abri a bolsa, peguei meu livrete e deixei sob o banco. Levantei também e segurei na mão dele. E foi nesse momento que aconteceu a segunda epifania da minha vida. Saímos de mãos-dadas, sem rumo certo, sem saber ao menos de onde o outro veio, o que fazia, o que queria... Mas por que se preocupar com de onde o outro veio, o que fazia, o que queria se as pessoas são tão mutáveis e se o passado sempre fica para trás? Não importava. Nós só queríamos o presente, e o meu presente é tê-lo agora dormindo ao meu lado desde aquela tarde chuvosa. Olho pela janela e a chuva cai lá fora. Senti meu coração apertar e esta foi a terceira epifania da minha vida. Volto no tempo e penso se todas aquelas pessoas que passaram ao meu lado naquele dia tiveram a minha sorte e também encontraram o amor das suas vidas. Todavia um amor pra toda vida é coisa rara, principalmente quando é assim, quase à primeira vista. Ele acordou e acabou de me ver com cara de boba olhando pra chuva, colocou os óculos e beijou meu rosto. São em momentos como estes de agora que eu consigo “lavar” a minha mente de todo e qualquer pensamento não-lapidado e me encher de coisas boas, de um bem estar transbordante. Levanto dessa cama e Théo me pega pela mão.
- Vem cá comigo.
- Pra onde?
- Você vem?
- Pra onde?
- Não sei. Você vem?
Apenas sorri e ele me sorriu de volta, me levou pro meio da chuva, tirou os óculos agora ensopados da mesma forma como fez naquele dia e me beijou como se fosse a primeira vez. Aquela foi a quarta epifania da minha vida, mas aquele foi o primeiro, último e único homem no mundo que fez com que eu me sentisse como criança e sorrisse sem jeito mesmo depois de tanto tempo.
- E então, você vem?
- Vou.

domingo, 5 de setembro de 2010

Happy Lonelly Birthday


Nobody to talk to, nobody to cry to.

E os ventos, cada vez mais fortes, vem envelhecendo.
Tomara que junto a este envelhecimento, as brisas consigam esquentar mais...
e os ares mudarem.
Completando hoje um ano de solidão publicada, hahaha (:

No decorrer da semana posto algo aqui, hoje só desejo um bom domingo.


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Setembro, meu bom setembro.

...além dos meus cubos de brasa

E depois de todos os cafés, conhaques, vinhos e calmantes sugeridos por Caio Fernando, agosto finalmente passou. Passou e levou consigo ao menos metade do negro destas nuvens. A outra metade? Já dizia o meu amigo Murilo: talvez sejamos nós que tenhamos essa mania feia de colorir.

Quando eu acordei ontem, que lembrei que setembro já havia começado, foi involuntário, mas senti uma pontada de esperança. Interessante como o desespero nos faz ter fé em cada besteira, nos apegar a cada tipo de ilusão... mas dizem que a fé tem efeito positivo no nosso psicológico, não é?

Primeiro de setembro, para mim, é dia de reflexão. Refletir sobre tudo que aconteceu em agosto, julho, junho, abril, dezembro, setembro passado... tudo. E principalmente sobre o agora, sobre esse agora que tanto me assusta, talvez até mais do que o que passou. Não reclamo, embora tenha motivos. Por ser fruto dos agostos e de tantos outros meses, cada vez o meu mundo se parece mais com a minha xícara de café: forte, amargo e sem nada para adoçar.

Foram os agostos que me construíram, toda essa estrutura sustentada por pilares de areia, todo esse conjunto de máscaras. Todas essas Vanessas que eu sou, sendo que a que menos pareço ser, é a única que sou de verdade. E essa confusão, uma bagunça interna que há tanto eu venho tentando organizar e talvez erroneamente, pois não observo progressos. Ao contrário, parece que a poeira vem tomando de conta do pouco que restava em seu lugar, daquela última fileira de livros da prateleira, a única em ordem. Não mais.

E não mais tenho minhas certezas, não que já houvesse tido tantas, mas minhas opiniões vão oscilando, minha essência se perdeu dentro do monstrinho que me tornei, como se houvesse uma névoa que me impedisse de observar tudo que eu fui e de balancear com o que sou, e como se todos os dias eu tivesse que nascer de novo, criando-me e recriando-me, cada vez mais diferente da original. Como se tudo que eu vivesse fosse uma farsa, e essa idéia me machuca e incomoda numa intensidade indescritível.

Sinto falta de mim, mas também não me busco mais. Aquela Vanessa ficou em algum agosto para trás, não nesse, mas num agosto distante, tão distante que eu não seria capaz de lembrar e voltar pra pegar, não sei se quero também. Todo esse gelo que há aqui dentro me faz um mal enorme, queima feito brasa, como fogo. Consigo me ver dentro dele, mas não tenho a coragem necessária de pegar aquele pedaço de mim que queima dentro desse cubo de gelo que incendeia de forma singular.

Depois vem essa misantropia, esse café, esse meu quarto úmido e esse edredom. Essa vontade de não sair daqui, o meu ninho, onde me sinto melhor. Mas essa certeza de que todo esse egocentrismo não vai fazer de mim diferente, do meu setembro diferente. E, meu Deus, é setembro. Hora de tentar fazer tudo novo, de fazer dar certo. De sair dessa cama e acordar pro mundo, não para o meu mundo, mas para esse mundo que gira fora daqui, fora de mim, independentemente da minha vontade ou não.

Um bom setembro a vocês, aproveitem que a primavera só começa uma vez no ano. Vão em busca das suas flores, vão sorrir, chorar, abraçar, brincar, lutar e seguir adiante. É a única e melhor saída que eu posso encontrar para mim.