quinta-feira, 30 de junho de 2011

Should I stay or should I go?

Exteriorizando

Interessante que, no fim das contas, escrever é a melhor forma de voltar no tempo. Por esses dias fiz uma retrospectiva com meus textos aqui do blog e outros não publicados, fiquei extasiada como consigo sentir de novo tudo que sentia na época em que foram escritos. Não sei se isso é bom ou ruim. Às vezes penso que seria melhor fazer como um amigo meu, que apaga/rasga/queima todos os seus textos com o passar do tempo... Mas o passado não se apaga. No máximo se esquece, ou se tenta esquecer. E acho injusta essa perspectiva, como querer fugir de quem se é. Pois quem se foi possui uma ligação direta com quem ou o que se é. No meu caso, quem se é não tem tanto valor. Porém todos os dias, todos os risos ou lágrimas e todos os clichês – muitos, diga-se de passagem – continuam fazendo parte de mim de uma maneira assustadora. É bom observar esse meu progresso-regresso. Aprendendo com os erros ou errando de novo, dessa vez sem ter a inexperiência como desculpa. Que verbo bonitinho é esse “escrever”. De uma melancolia tão contente. E eis que depois de todas as besteiras que falei acima, eu paro e reflito: o que eu pensarei quando ler isso daqui a um ano?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Quanto aos planos de médio prazo

Eu sempre quis ter coragem de juntar umas coisas, por na mochila e se jogar no mundo depois. Sem planos específicos, sem destino certo, sem previsão de volta. Só se entregar à viagem, aos lugares, ao momento. Com juízo demais ou de menos, com um sorriso no rosto. Conhecendo gente, fotografando cada borboleta que passar pelo caminho. Sentar na beira da estrada ao fim da tarde e olhar o pôr-do-sol. E olhar os carros passarem. E imaginar de onde vêm, pra onde vão, até que parte daquele caminho irão seguir. Beber. Muito. Seja vinho, vodka, tequila, ou o que tiver. Beber com os amigos, novos, velhos. Os que me acompanharão ganharão milhões de beijos e abraços e sorrisos e tanta coisa, os que não ganharão minha lembrança e a vontade de que pudesse levar cada um comigo. E levo. Sempre. E leve. Sempre. Leve feito brisa, entregando-se ao vento, à vida. Ah, como eu queria mochilar...

sábado, 25 de junho de 2011

Nem vou me lembrar de te esquecer

Depois de umas boas doses, muito ócio e uma música, eu me vi facilmente confundindo a letra. Eu não queria me enjoar de você coisa nenhuma, o que eu não queria era desgrudar de você, essa é a verdade. Estava eu a cantar o mais inocentemente possível, até o momento que fui dar outro gole e ouvi a voz do João Bernardo me fazer atentar para o detalhe que ou eu não havia notado, ou não queria notar. Sorri e brinquei comigo mesma, quão boa é essa sensação de estar em paz consigo e com os outros... e com você. Ah, você! Não, eu não queria desgrudar um minutinho sequer. Enjoar de você é algo completamente sem nexo. Quero você pertinho, o dia inteiro, a vida inteira, o tempo inteiro, isso sim... Só isso.

Pra caber bem à noite

“Beber é algo emocional. Faz com que você saia da rotina do dia-a-dia, impede que tudo seja igual. Arranca você pra fora do seu corpo e de sua mente e joga contra a parede. Eu tenho a impressão de que beber é uma forma de suicídio onde você é permitido voltar à vida e começar tudo de novo no dia seguinte. É como se matar e renascer. Acho que eu já vivi cerca de dez ou quinze mil vidas.”

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Vertigem

Era quinta-feira. Luísa pensou que fosse sábado. Acordou ao meio dia, passou horas na cama juntando forças até finalmente conseguir levantar. Havia tido um pesadelo, não lembrava ao certo o quê, mas cenas de alguns filmes, fossem estes reais ou irreais, passaram-lhe pela cabeça. Tinha uma leve enxaqueca e a garganta doía, seria esta indisposição apenas um indício de mais uma crise de saúde? Não importava. Ela não havia bebido, lembrou, então o único motivo para aquela sensação que se assemelhava por demasia à ressaca, só podia ser uma virose. A enxurrada de pensamentos que há tanto lhe assolava persistia. Luísa fez um café e tomou uma xícara cheia daquele líquido quente e amargo, que sem sombra de dúvidas a ajudava a lidar com toda e qualquer situação. Só não sabia, ao certo, com que situação queria lidar, embora isso não passasse de um detalhe. Encostada na mesa da cozinha, Luísa chorou. Sem saber o porquê, sem precisar de um motivo, só pela falta. Não pela falta de ninguém, desta vez, mas por algo que faltava e era abstrato demais para se explicar, por mais que a si própria. Diferentemente de tantas outras situações tão iguais, desta vez ela não precisava de alguém que lhe abraçasse, segurasse sua mão, ou só ouvisse seu choro. Luísa precisava se purificar. Sempre haveria uma coisa ausente e essa ausência sempre faria toda a diferença, sempre doeria de diferentes maneiras, e sempre se faria presente e notável o bastante para lhe tirar o sono. Que sono? Luísa não sentia sono. Noites inteiras em claro, observando a lua virar sol e escutando o silêncio da janela do seu quarto. Se dormia, eram os calmantes. Fortes o bastante para fazê-la dormir, mas não para fazê-la esquecer. E eis a dúvida: esquecer do quê? A resposta é nítida: do labirinto. Só o labirinto justificava tudo, é como se fosse para ela uma bússola, confusa, mas ainda assim uma bússola. Independentemente de qual fosse o momento, o labirinto era a única coisa capaz de responder todas e quaisquer perguntas. E tudo num labirinto dependeria de dois fatores: da paciência e da sorte. Sim, eu sei que é normal, que muitos têm paciência de sobra para lidar com os empecilhos da vida, mas sem a sorte de nada adianta. Como uma gangorra, se não houver um peso equivalente do outro lado, será completamente impossível, mesmo que por fração de segundo, transformar aquele constante movimento de inconstância numa reta perfeitamente equilibrada. O labirinto podia fazer com que você se perdesse ou se salvasse, só dependeria desses dois fatores. E era nisso que Luísa pensava enquanto estava encostada naquela mesa. Luísa estava exatamente no centro do labirinto, o problema é que não tinha a menor idéia de por qual caminho deveria seguir agora, qual seria o mais seguro. O tempo lhe ensinou que poderia haver sorte, não sempre, mas que devia aproveitar todas as boas marés que lhe aparecessem. Isso ela fazia. Sinal de que dentro da sua sorte, residia sua paciência. Tinha tudo para dar certo, estava tudo extremamente perto, só precisava subir mais um degrau. Todavia, o tempo estava acabando. E isto a deixava absurdamente psicótica. Cada vez mais solitária, escondendo-se de todas as maneiras que lhe fossem palpáveis, guardando tudo numa caixa que já estava muito cheia. Então Luísa mais uma vez chorou. Tomou mais um grande gole da sua xícara agora quase vazia. E riu, quase vazias: ela, a xícara... O que está quase vazio ainda não se esvaziou de vez. Ainda resta um pouco. Luísa sorriu. Levantou a cabeça e olhou pro relógio. Havia parado. Mais uma vez Luísa sorriu, o labirinto acabara de lhe mostrar que ela não estava tão sem tempo assim.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Nós acendemos as luzes da cidade


Depois da meia noite.
Até nascer o sol.

A trapezista do circo

Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre. Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí, eu vi que eu estava sozinha.

terça-feira, 21 de junho de 2011

I don't wanna go, I don't wanna stay


So there's nothing left to say.
And why'd you lie?

Choices

Apavora-me essa certeza. Essa convicção que às vezes eu tenho de que pode ser real. Não sei se por tê-lo tão perto, por mais que tão distante - num outro mundo ou galáxia – penso que pode dar certo. Mas não, não daria, já não deu. O que não posso negar é aquele arrepio que percorre o meu corpo inteiro e me dá uma vontade incontrolável de sorrir todas as vezes que penso em você ou em nós. Como se eu já lhe esperasse, como se você viesse para dar a ordem que faltava. O que eu não gosto de saber é que é justamente o inverso. Que tudo isso é o mais incerto possível, que eu não tenho o direito de me sentir assim. E confesso que às vezes dói. Porque eu finalmente me via conseguindo começar a tentar. Quantos verbos juntos pra indicar uma ação tão tola, essa de se permitir. Devia ser intrínseca à minha personalidade e não um mérito. Então os dias passam, o telefone nem toca mais e eu vejo o quão perdida eu continuo. Não mais que antes, embora as probabilidades de problemas virem a surgir tenham se multiplicado. Fiz-me uma promessa de não sofrer por antecedência, não combinaria com meu estado de espírito atual. Preocupa-me que eu não consigo mais chorar. As feridas de outrora aparentemente decidiram cicatrizar, como um remédio de efeito imediato. Tenho tanto medo de que voltem a se abrir, como tantas e tantas outras vezes. Na música, uma voz diz que eu não deveria nunca ter deixado o outro alguém ir embora. E é aí onde a confusão começa: eu nunca deixei. Você foi. Veja só a inversão de “vocês” que eu sempre acabo por criar. Não é assim. O problema está em mim, mora aqui. Talvez não nas lembranças. Talvez não no passado. E sim no presente, no agora, no rumo que eu esteja dando as coisas, que é justamente esse de não dar rumo nenhum. Eu preciso tomar as rédeas da situação. Mas lá volta aquele sorriso e eu me sinto uma tola mais uma vez. Decepção nem mata, tampouco ensina. Ilusão. A história se repete. Sempre uma menina mascarada de mulher, que se fantasia e fantasia toda uma relação. E tudo isso nunca sairá da sua cabeça. É a decepção nada mais que o fato do conto de fadas não ter passado da vida real. A outra pessoa não tem culpa, não sabia que lidava com uma sonhadora por excelência. Continua sendo lindo isso de encontrar o amor das nossas vidas, mas eu já li e comprovei que não era pro meu bico. Não há quem possa valorizar as minhas promessas e isso já é o bastante para eu não prometer. Deixar ao acaso, sempre planejando. Contradizendo todo e qualquer comentário que eu mesma possa fazer. Como um trem que eu perdi e vejo partindo sem mim. Se eu corresse agora, talvez ainda desse tempo de embarcar. Ou eu me cansaria correndo em vão por alguma coisa que já estaria longe demais para ser alcançada, ou eu conseguiria entrar nessa viagem sem saber o rumo certo. Qual das duas opções é pior?

domingo, 19 de junho de 2011

Evil heart

- Ontem à noite foi estranho, sonhei que eu era um anjo do inferno.
- Fazendo jus à amizade com a succubus.
- O demônio vai perder o posto pra mim.
- Onde vamos parar desse jeito?
- Na cama, preferencialmente.

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Porque, pra animar a vida e um domingo à tarde, nada melhor que os comentários de uma amiga pervertida.

sábado, 18 de junho de 2011

Há quem diga que perder é uma forma de ganhar


Por mais que eu apague o seu telefone e endereço, não fale mais em você e finja que tudo está bem de novo, sua ausência ainda me dói todos os dias.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Se cansou do ódio e viu que o sonho é real

Para mim, é difícil exteriorizar um sentimento com o qual eu não estou familiarizada. Não que os outros sejam fáceis, mas estes especialmente. É que hoje ao acordar, eu fiz aquela mesma análise que faço todos os dias antes de levantar da cama, aqueles cinco minutos meus para organizar os pensamentos e tentar começar o dia bem. O estranho nisso tudo, é que hoje funcionou. Que a primeira coisa que eu constatei ao me olhar no espelho foi que eu estava sorrindo. Não com a boca, mas com os olhos, com a alma. Motivo? Ninguém precisa de motivos, tampouco eu. Minha memória vaga não consegue recordar quando havia me sentindo assim pela última vez, tão leve. Como se a vida inteira fosse olhar o céu azul num fim de tarde qualquer, numa praia qualquer. Eu quero que fique. O medo agora me assola. Depois de tanto tempo achando que tudo estava errado, hoje eu olhei tudo com outros olhos. Como se na noite passada alguém tivesse me feito uma lavagem cerebral. Mas se eu sequer dormi na noite passada, como isso explicaria algo? Não, não foi lavagem cerebral, não foi ninguém que fez isso comigo. Eu talvez tenha finalmente conseguido acreditar nas palavras que eu sempre repeti pra mim mesma e que só agora são sinceras. E, nossa, esse agora deve ser entendido o mais ao pé da letra possível. Devo estar sob efeito de alguma droga, mas acordei gostando de mim. Não aconteceu nada e está tudo novo. Talvez eu não precisasse de um apartamento novo, e sim de uma boa faxina neste velho. Limpou. Organizou. Clareou. Abriu as janelas. Ri à toa. Sentimento sem nome nem explicação, fique! Sentimento sem nome nem explicação, não me deixe! É mais fácil com você aqui. Não é mais um beco sem saída, há caminhos, só preciso escolher o certo... e são tantos! Será que dá pra voltar atrás se eu entrar no percurso errado? Não, Vanessa, você vai escolher o certo. Você vai escolher viver. É isso.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Imperfeição

Amor perfeito
Amor quase perfeito
Amor de perdição paixão que cobre
Todo o meu pobre peito pela vida afora
Vou-me embora, embromadora
Você para mim agora
Passa como jogadora
Sem graça nem surpresa
Diga que perdi a cabeça
Seu eu me levantar da mesa e partir
Antes do final do jogo
Louco seria prosseguir essa partida
Peça falsa que se enraíza
E faz negro todo meu desejo pela vida afora
Vou-me embora, embromadora
E quando eu saltar de banda
E quanto eu saltar de lado
Vou desabar seu castelo de cartas marcadas
E tramas variadas
Sim
Seu castelo de baralho vai se desmanchar
Desmantelado
Decifrado
Sobre o borralho da sarjeta
Chegou o inverno

sábado, 11 de junho de 2011

Baby, please remember me once more

Engraçado que logo hoje, no dia que deveria ser o nosso, eu acabei por acaso lendo alguma besteira em algum lugar que nem lembro, que me fez criar no fundo uma pontinha de esperança quanto à existência de alguma reciprocidade entre a gente. Dizia que se uma pessoa sonhar com outra, é sinal que essa outra pessoa foi dormir pensando na primeira. Fiquei me perguntando: será que você pensa em mim todas as noites antes de dormir?

Ele queria confete e nem era carnaval

quinta-feira, 9 de junho de 2011

We would meet again, some sunny day

Quase três da tarde, um milhão e meio de motivos para preocupação e uma menina ouvindo Pink Floyd. Pensando, lembrando e sentindo vontade de sorrir ou de chorar. A menina não sabe bem o que quer. Ou talvez saiba demais e este seja o motivo para que ela fuja dos seus afazeres e se refugie nos solos de guitarra há tanto tempo constantes no seu som e na sua vida. Os mesmos solos de antes, as mesmas músicas de antes, o mesmo amor, a mesma saudade e a mesma sensação de que tudo está ficando cada vez mais errado, mais fora de ordem. Confortavelmente, mas, por sorte ou azar, não completamente entorpecida. Ainda desejando que aquele alguém estivesse aqui, ainda pensando que são só duas almas perdidas nadando num aquário ano após ano. Mas o show tem que continuar, esteja o muro construído ou não. Brilhem seus diamantes loucos ou não. Pensa em jogar tudo pra cima, ocorre-lhe então que cairia tudo sobre sua cabeça e doeria mais. Doeria de novo. Continuaria doendo. Ela só quer acabar com tudo, ela só quer por a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Só isso. Sem saudade, sem dor, sem paixão e sem amigos, e ainda assim completa.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não é mais uma questão só de encontrar as chaves

Mais uma vez a insônia é minha companhia. Alguma parte de mim implora por sono, outra dispensa. Em algum lugar dentro de mim, ainda havia alguma voz que pedia pra eu tentar de novo. Como tentar de novo quando ainda se está tão cheio de feridas ao ponto de não conseguir levantar? Eu preciso da minha solidão, que fiquemos só eu e ela por um tempo. Seja este longo ou breve, é o que eu preciso agora. Rever conceitos, repensar situações, replanejar minha vida de forma que não fuja muito do roteiro anteriormente traçado. Como é ruim ser de virgem, como é ruim acreditar que todas as pessoas, assim como eu, possuem essa mania ímpar de deixar tudo claro. Mas o que há de tão errado em se querer explicações? É, o próximo tem que ser virginiano, por mais que não dê certo, talvez ele me entenda. Talvez não. Talvez não haja sequer um próximo. E além do mais, também não gosto de refletir sobre isso como se fosse apenas uma questão de substituição. Nunca será a mesma coisa. Um jeito diferente ao enlaçar minha cintura ou olhar nos meus olhos, sempre haverá alguma peculiaridade. Então, como, diante disso, eu posso reagir como se fosse uma questão apenas de preencher a prateleira com um outro porta-retrato? Não é assim que funciona. Não, não é. Pode ser com algumas outras, até com várias, não comigo. O que me intriga nessa situação é especialmente uma coisa: deixar a porta aberta. Ato este, que pode ser extremamente perigoso. Nunca se sabe, pode ser que venha alguém e leve tudo, deixe-te de mãos atadas e coração na mão. Ou pode ser que venha outro alguém e bata antes de entrar, organize tudo e espere por você sentando no sofá olhando a chuva cair por trás da janela. Mas não, este último tipo é praticamente inexistente. As pessoas não costumam ser tão honestas. E o que eu, logo EU, sei sobre as pessoas? Alguma coisa qualquer, de completa insignificância. Voltando ao que me intriga: é que, às vezes, ocorre de ter alguém esperando para entrar quando o outro alguém abre a porta pra ir embora. E fica aquele impasse. Eu encosto na parede, inválida, e só observo no que aquilo vai dar. Conseguirá enfim aquela pessoa sair da casa? Conseguirá aquela outra entrar? Se a primeira sair, ela fechará a porta antes que a outra entre? Se a segunda ver a primeira saindo, ela entrará na casa para sentar ao pé da lareira ou para lhe roubar os pertences? Preciso de um cadeado, só as chaves não adiantam mais. Devo tê-las perdido pelo caminho e certamente alguém andou tirando cópias. Entrando à bel prazer, saindo da mesma maneira. Mas é estranho chegar em casa esperando encontrar alguém e ver que aquele alguém não está mais lá, que está tudo vazio e frio de novo. Sem a menor explicação do porquê de ter ido embora, sem sequer um bilhetinho na porta da geladeira ou embaixo do jarro de flores. É difícil. A gente adquire uma certa desconfiança até quando vem alguém - que bate à porta direitinho, que não tem a menor intenção de bagunçar ou roubar nada, que quer tudo conquistado, que quer conquistar o seu próprio espaço naquela casa, naquele coração – e a gente acaba batendo a porta na cara. Sem esperar. Sem acreditar. Ele foi embora. Foi embora e levou com ele o que estava no jardim, esperando a hora certa de tocar a campainha. É provável que não houvesse uma hora e, ao constatar esse detalhe, preferiu unir-se ao que saia e procurar alguma outra casa, em alguma outra rua e em algum outro bairro, preferencialmente distante daquele, quem sabe até construir alguma outra casa... para que só assim alguém batesse e não o inverso, e dessa vez a felicidade que me faltou pudesse entrar por um outro portão da frente.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Desesperadamente

De uma maneira quase assustadora, surgiu você. Feito mágica. E junto àquela ânsia em ver onde tudo isso ia dar, eu perdi o bom senso. Por uma questão de horas, abandonei toda a racionalidade que sempre andou ao meu lado. Fechei os olhos para o que se passava de verdade e acabei me deixando ser guiada por suas doces, gentis e falsas palavras. Palavras estas, que eu jurava serem as mais singelas e sinceras, a minha fonte de esperança no mundo e na vida. Talvez até o motivo que me fizesse continuar, a mão que segurasse a minha para me proteger, acalentar. Um tropeço, sem dúvidas. Uma grande queda. Uma desilusão. Mas além de tudo: um aprendizado. É isso.