terça-feira, 30 de agosto de 2011

Semelhança


"Vanessa, você nunca foi tão santa assim"

Ela se pinta e sai.
Disfarça a tristeza com o batom
Os lábios continuam sem cor
Há muito perderam o brilho para outra boca
Uma boca tão sua quanto a sua própria
Esta que grita sua dor em diversos tons
Sendo todos de silêncio.
De um silêncio prolixo
Que tanto fala e que tanto se estende
Num discurso retórico e vago
Tão vago quanto esta alma aflita
Que vaga pela casa em busca do corpo
Todavia, o corpo que ela quer não está mais nesta casa
Fora embora junto da cor da boca
Junto do brilho dos olhos
Deixando para trás apenas um outro corpo
Imóvel sobre a cama
Inerte
Solitário
Apaixonado
O dela.


ps.: Obrigada, minha Ná. Já haviam uns bons dias que eu procurava um título para este texto. Saudades suas!

domingo, 28 de agosto de 2011

sábado, 20 de agosto de 2011

Everything is not lost

Foi exatamente na hora que eu pensei que me encontraria, que eu me perdi. Como um vendaval. Deixando-me sem saber se seria motivo de riso ou de choro. Tirando tudo de ordem, ao passo que as coisas se organizaram. Expulsando a rotina para o mais longe possível de mim e ao mesmo tempo me deixando nervosa com uma familiaridade tão assustadora. Isso tudo é desesperador. Essa dúvida, incerteza cheia de certezas. E esse medo. Um medo tão forte, tão maior. Ainda maior do que esse amor. Amor que tampouco sei dizer a quem pertence, com quem eu o divido. Eu estou tão transtornada que só me calo, que perco o senso de como continuar, perco a direção. E penso que o motivo é de choro. Completamente perdida num território inimigo. Um campo minado. Que dúvida, meu Deus! Seria, mais uma vez, tudo minha culpa? Culpa de ferir as pessoas que amo. Culpa de não corresponder às expectativas de quem mais espera de mim. Culpa de amar demais e não saber como lidar com isso. Um arrepio enorme percorre toda a minha espinha e eu sinto que está tudo desandando outra vez. As coisas estavam tão bem, quase tão bem. Por mais que eu precisasse disso, precisava já havia tanto tempo, tinha que ser justo agora? Eu estava tão segura. Tinha um porto. Ainda tenho? Não sei se estava seguindo adiante ou andando em círculos, simplesmente não sei, mas eu estava bem. Tão bem. Contente, até. Era a minha vez de as coisas darem certo. Está dando certo agora? Nem sei mais o que é certo ou não. É como se eu caminhasse para a forca e tivesse que escolher alguém para levar comigo. Eu vou sofrer. Mais. Agora, fico triste por saber que estou num beco sem saída. Que só dá pra salvar uma pessoa. Que não tem espaço para a terceira, não pode ter. Quem eu vou salvar? Se eu pudesse, preferia sofrer sozinha. Nunca quis machucar ninguém. Que dom é esse? Que imã enorme para problemas. Eu sou o problema, sempre fui o problema e continuarei sendo. Além de auto-destrutiva, meus destroços conseguem atingir quem estiver por perto. É uma questão de fugir enquanto é tempo. Mas aquele mesmo imã parece atrair os outros para o perigo, para o meu perigo. Uma luta mortal por um prêmio sem valor. Eu quero por meus pensamentos em ordem, não consigo. Por que você tinha que fazer isso comigo justo agora? Doía demais ver que eu estava bem? Sempre bom frisar esse verbo no passado: estava. Sem previsões de volta. Queria sumir. Só para não ter que encarar isso tudo. Eu não posso fazer isso sozinha.  É o inverso: eu só posso fazer isso sozinha. Preciso de mim. De ponderar as coisas da melhor maneira possível. Tanto que eu ponderei antes, que eu quis que tudo fosse previsto, nada fugisse dos meus planos. Odeio surpresas. Eu prefiro sofrer sozinha. Não posso fazer isso. Não posso negar a mão à pessoa que me fez bem, que me faz bem, que faz de tudo para me ver bem. Não posso negar a quem sempre me amou uma chance de tentar fazer correto dessa vez. A única coisa que consigo imaginar é negar a mim mesma o direito de ser feliz. Pensando bem, nem isso. Esse direito já me foi negado independentemente da minha vontade. Se eu não fizer nada, vou assistir a vida passar pela janela enquanto continuo trancada no quarto. Se eu optar, seja por que lado for, eu posso me martirizar até o resto dos meus dias por ter feito a escolha errada. Errada, não, menos certa. Eu estava conseguindo ser. Eu fui quase completa. É como se agora eu começasse do zero mais uma vez. O problema é que quem começa do zero deixa a dor para trás, e a dor é a única coisa que me acompanha nessa história. E a culpa. Sabe que agora eu penso que aquele sonho era tão real e eu não soube interpretar. Eu já conhecia aquele toque. Como me dói não saber o que fazer. Você era tudo que eu precisava, com você o meu mundo ficaria completo. Eu não quero ferir ninguém. Não agüento mais repetir isso. Não agüento mais essa história se repetindo. Será que nunca eu vou ter paz? Eu deixaria meu sangue secar para não estar nessa situação agora. Eu quero uma válvula de escape. Eu quero estar de volta a dois dias atrás, onde tudo era lindo e corria bem. Onde  eu sabia exatamente o que queria e onde queria estar. Agora minha visão é turva. Por que eu tinha que fazer isso logo com você? Por que eu tenho que ser inconstante desse jeito? Eu estava tão decidida. Não posso sequer te pedir perdão, eu não sou digna desse perdão. E é mais fácil para mim encarar isso como só mais uma fatalidade, só mais uma vez que eu fui lobo em pele de cordeiro. Eu não podia fazer você se sentir desse jeito, não era para ser desse jeito. Você merece tantas coisas boas, você me trouxe tantas coisas boas. Você me trouxe à vida quando eu pensei que sequer conseguiria respirar. E você me mostrou as coisas lindas, todas as coisas mais lindas que existem nesse mundo tão feio, esse mundo feio que você pintou bonito só pra me fazer feliz. Como eu posso ser tão monstruosa ao ponto de ferir alguém assim? De ferir alguém que é tão especial. Eu só provei ser mais uma, só mais uma, pequena e insignificante e egoísta e perdida. Mas toda amor. Um amor que deveria ser seu, que é seu. Mas que não é tão seu, só seu, como deveria ser.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Para combinar com o estado de espírito

"I don’t know what it is about me that makes people think I want to hear their problems. Maybe I smile too much. Maybe I wear too much pink. But, please, remember: I can rip your throat out if I need to and also know that I am not a hooker. That was a long, long time ago."

Da minha diva, Pam.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Back to black

Eu cheguei há algumas horas. Quando abri a porta de entrada, senti como se fosse entrar num mundo mágico e único, que só eu conhecia e sentia falta. Tantos dias longe daqui. Mas quando dei o primeiro passo e olhei o corredor, só vi um vão vazio e sem cheiro. Como se ninguém nunca tivesse morado aqui. Como se eu nunca tivesse estado aqui antes. Senti o sangue pulsar mais forte nas veias, uma onda de decepção me assolou e vieram lágrimas aos olhos. Minha mente estava muito cansada, não tenho tido dias bons, talvez eu estivesse esperando que estar aqui de novo me trouxesse a cura. E justamente por a cura não ter estado aqui de imediato, eu me senti ainda mais perdida e cansada. Deitei, tomei meu velho analgésico... Foi quando eu reparei que as coisas estavam exatamente iguais. Que o vazio na casa era na verdade o meu vazio, que a ausência de cheiro era essa minha indiferença gritante. Levantei, desfiz as malas, pus cada coisa no seu lugar. Preenchi o guarda-roupa com as mesmas coisas de antes, coloquei as compras no armário, preparei um café, borrifei do meu perfume no quarto. Já parecia tão familiar de novo, como se a parte de mim que vive nessas paredes tivesse voltado. Fiquei satisfeita comigo por isso. Então peguei as chaves, voltei à porta de entrada e a abri mais uma vez. Eu estava em casa de novo. Eu estou no meu lugar. Deitei, peguei a bolsa e procurei algo que sabia que estava lá. Na fotografia, a menina que estava sorrindo não era eu: eu não sai daqui, aqueles dias lindos não foram meus, aquela ilusão de felicidade já passou, todos aqueles abraços já se perderam no tempo. Eu estou só. Embora haja alguém comigo agora, alguém que já faz parte de mim ao ponto de ser a única companhia que a minha solidão deseja. Eu continuo sozinha. Do jeito que gosto de estar. E toda aquela dor que eu trouxe comigo, toda a dor que algumas palavras de despedidas me causaram pouco mais cedo, continua aqui também. Isso é importante pra mim. Eu já estou adaptada a essa dor, a essa sensação de impotência. Serve de desculpa. Justifica minhas falhas. Embora não justifique, eu posso mentir para mim mesma e dizer que eu só me afundo cada vez mais porque a dor não permite que eu me levante. E por mais que no fundo eu saiba que a questão não é só essa – pode ser, também, essa – essa mania de auto-sabotagem também já faz parte de mim. É assim, aos cacos, juntando partes soltas e sem colá-las perfeitamente, que eu vejo que o analgésico fez efeito e que eu já estou curada.