domingo, 9 de dezembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Meus olhos doidos, doidos, doidos, são doidos por ti

 
O arvoredo inventou um balé, e eu resolvi desinventar o silêncio sem fim que havia inventado um dia. Talvez por querer a rima diferente, não mais vazia, preenchida. Enfim... É que eu tenho confirmado algumas análises de outrora, que, porventura, julgo ser válido te deixar ciente: eu nunca desisti dos planos daquele assalto de versos retos e corretos; mas, sim, reguei os restos de paixão e espero que sirvam para nós. Cresceram. Fazem ventar... Do tipo de vento que quando bate no rosto a gente fecha os olhos e esquece os problemas. Bagunça-me a ideia de que você não entende quando eu grito tudo isso, em cada entrelinha, e que te assusto, a cada vírgula e a cada frase, no doce dessa minha loucura, que também é tua, pra usar a sós. Assusto-me, inclusive, por mais que tenha encontrado coragem ou insanidade em algum lugar, por não entender. “Estranha-me”, cabe melhor. Já que não entendo e não busco compreensão. Só busco olhar telhados, não necessariamente de Paris, em casas velhas e mudas. Contudo, com, necessariamente, você do meu lado.  

domingo, 18 de novembro de 2012

Onde será que você está agora?

Eu perco o chão, eu não acho as palavras.
Eu ando tão triste, eu ando pela sala
Eu perco a hora e chego no fim
Eu deixo a porta aberta...
Eu não moro mais em mim.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

E a saudade, o que será?

Então o médico me perguntou:
- O que sentes?
E eu respondi:
- Sinto lonjuras, Doutor. Sofro de distâncias.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

More than words

É aí que você chega, do seu jeito: sem chegar. Eu tô lá, parada, de frente ao portão, perto daquela roseira velha, e você tá passando na rua, com um ar descompromissado de quem não me vê ali. Eu continuo parada, atônita, gritando por dentro, implorando que você me note, mas sem me mover um centímetro sequer. Você não nota. Até que eu dou um passo à frente justo na hora que você também dá um passo à frente, no mesmo exato e maldito momento, e passa por mim, eu fico atrás. Eu fico pra trás. Como já havia ficado antes. Como eu insisto em ficar todas as vezes... como você insiste em nunca reparar.

sábado, 27 de outubro de 2012

Com orgulho


Os últimos dias foram de uma intensidade ímpar. Muito riso, muito choro, muita união e muito trabalho, contrastando com as poucas horas de sono. A partir de hoje, as coisas começarão a voltar a seu estágio antes da eleição do Diretório Acadêmico Antônio Mariz. Não é com pesar que eu relato todo o esforço e dedicação que eu vi no grupo azul, no MEU grupo, não só nas últimas semanas, mas nesses três últimos anos à frente do D.A. A força e determinação que eu vi no rosto de cada uma das pessoas que me rodeou nesses últimos anos, não se esvai tão facilmente. Pelo contrário, só cresce. E eis que todas as palavras sobre o “sentimento azul” que todos nós tanto ressaltamos fazem sentido, mais que nunca. Nosso grupo é um referencial em HUMILDADE, DECÊNCIA, COMPETÊNCIA E TRABALHO. Digno do meu orgulho de agora e de toda a vida. Espero, de coração, que o grupo verde consiga fazer um trabalho tão bom quanto o nosso. Parabenizo pela vitória nas eleições, inclusive. Mas parabenizo ainda mais a vocês que trabalharam junto a mim nesta campanha e nas anteriores. A sensação de dever cumprido que carrego comigo seria impossível sem ter vocês por perto. Porque, além de uma chapa, além de um movimento, além de um grupo, NÓS SOMOS UMA VERDADEIRA FAMÍLIA.

Ah, e votar no azul? Eu? SEMPRE!

sábado, 20 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

All my loving

Hoje quando eu acordei e fiquei enganando o tempo antes de levantar, fiquei pensando em algo que te ouvi falar na madrugada passada: que não conseguia enxergar a razão em se comemorar aniversários. Na hora ri e até concordei, posto que também não via tanto sentido. Mas, minutos depois, parei me perguntando como não comemorar o dia do nascimento de uma pessoa como você. Se andam por aí comemorando até a suposta independência do nosso país, eu não vejo sentido algum em deixar de comemorar seu dia, isso sim. Por mais que eu tenha silenciado acerca da sua afirmação na hora, tive incontáveis devaneios acerca do quanto tudo seria diferente se eu não te tivesse como amiga. E sabe, acho até engraçado isso, de eu me ver assim, sem me imaginar sem tua amizade, posto que ela é relativamente recente. Entretanto, embora sempre tenha simpatizado contigo, bastou conversamos francamente a primeira vez para eu saber que não nos largaríamos mais. Até porque, não é todo dia que eu encontro alguém com o juízo tão virado quanto meu, com um passado tão bagunçado, com um presente tão mais bagunçado ainda e com um futuro que é melhor nem se supor, pra poupar noites de sono. Da mesma forma que também nunca havia imaginado que houvesse no mundo outra pessoa com todas essas características, e que ainda assim tivesse toda essa auto-estima, arrancasse todos esses sorrisos e desse tanto sentido e valor às pequenas felicidades diárias que a vida, nos seus descompassos, acaba por nos oferecer. É cômico, eu sei, mas todo dia baixinho eu comemoro por ter alguém como você por perto, já que fomos unidas pelo que há de mais forte em nós e em qualquer outra pessoa com nossa intensidade (o google vem e comunica: "Você quis dizer: capacidade de drama" hihihi): auto-destruição. Já parou para analisar isso, amiga? Se não tivéssemos esse ímpeto destrutivo, talvez fôssemos ainda uma para a outra apenas a outra menina bem vestida (SIIIIIM, SEMPRE!) que passava no corredor da faculdade. Só que não. Você transformou essa cidade que, até então, eu odiava, no meu verdadeiro lar. Você me rendeu e rende as melhores histórias, mais cômicas, mais trágicas, mais cheias de imprevistos e mais bonitinhas. É realmente maravilhoso deitar a cabeça no travesseiro e saber que posso te ligar quando a insonia apertar, quanto a tristeza bater, ou quando eu só quiser botar as fofocas em dia. Tu não tens noção dos bens que já me fizestes e dos que me faz, todos os dias, quando liga pra me dizer que eu te esqueço, mesmo eu tendo falado contigo duas horas mais cedo. Agora me responda: como a Isis não poderia amar a Vivi? A gente se completa demais, migs! Nosso raciocínio psicótico caminha paralelamente. Não sei o que seria de mim sem você pra ser louca junto comigo, sem você para dizer que viu uma bolsa LIIINDA na vitrine de uma loja quando eu estiver deprimida, sem você pra encher a cara comigo sempre que eu preciso desopilar, ou pra comer uma panela cheia de brigadeiro todas as vezes que a TPM me maltrata. Eu só tenho a te agradecer por todos os dias lindos, por todo o apoio, por todo o carinho, todo o respeito, paciência e dedicação. Amo você muito, muito, muito, muito mesmo! "Minha irmãzinha, queridinha", sei que já tenho te perturbado muito hoje, mas quero que guarde contigo a certeza do quanto importas pra mim. E olha, daqui a pouco vou te procurar pra te dar outro abraço e cantar a musiquinha de aniversário que eu te ensinei, tá? Parabéns, minha amiga. Lembre-se sempre que eu tô contigo nessa.

domingo, 14 de outubro de 2012

Foi como ser feliz de novo

Como poderia não ser amor, se ouvir tua voz do outro lado da linha sempre me bastou para abrir o sorriso? Não sei se você tem a mesma impressão que eu acerca disso, mesmo bagunçado e imperfeito, fazer todo o sentido do mundo, mas a verdade é que eu nunca consegui, tampouco conseguiria, caber na vida de ninguém como eu coube na tua. Por mais que você seja errado, você é todo amor. Todo meu amor. Meu, amor. Por mais que eu grite pro mundo que te odeio e quero você longe de mim e não quero nunca mais olhar na tua cara, dois minutos depois tudo que eu anseio é por cair dentro do teu abraço mais uma vez. É ter você pra segurar minha mão no meio de um filme de terror, mesmo sabendo que quem tem medo é você, não eu. Porque você me protege só de tá ali, do meu lado. Porque você implica, discorda, teima e ainda assim é tudo o que eu preciso. E que depois que você apareceu eu mudei tanto que nem me reconheço, já que foi tu que trouxeste a parte mais bonita, sensível e - até então - inédita que eu tenho à tona. E tudo que diz respeito a nós me é sincero e intenso: do riso à lágrima, da cumplicidade à saudade. Do querer você por perto. Aquele mesmo, de sempre. Do jeito que eu te falei uma vez, duas, dezenove: da nossa sina de precisar estar longe pra notar que se quer por perto. E quero, como quis. Não só por querer, mas por saber  que você é o único capaz de dar cor aos meus dias. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

De si para si

Quando ela acordou naquela manhã pouco ensolarada, paradoxalmente, tudo estava mais claro. Consultou seu relógio, antes mesmo de lembrar não precisaria do seu apego aos horários. Espreguiçou-se e, de repente, a cama de casal pareceu do tamanho ideal para ela. Seu corpo esguio parecia tomar cada centímetro daquela superfície macia e isso fazia com que a moça se sentisse grande, literal e figuradamente.  Após alguns minutos de preguiça e reflexão, levantou-se e preparou a cafeteira. Ao sair do banho, o apartamento todo cheirava a café, limpeza e paz. Pegou sua velha caneca, lembrança que o rapaz trouxe pra ela havia um considerável tempo... que agora, mais que nunca, era só outra lembrança, e foi até a janela enquanto deixava o gosto do café tomar toda a sua boca. Encostou e ficou ali, parada, pensando. Ria consigo ao constatar como as coisas mudaram em sua vida. Se alguns meses antes alguém tivesse chegado para falá-la que agora ela teria, finalmente, conseguido desenvolver essa habilidade ímpar em desconsiderar, ela duvidaria. Eis que conseguiu ser tudo o que quis ser: desapegada. Então constatou que acabara de modificar seus anseios: não era desapegada que a moça queria ser. Queria, só não sabia, ser humana e estável. Duas características que jamais se acertaram no mesmo passo. Mas era uma busca, precisava buscar algo. Estava vazia, porém não insatisfeita. Essa sensação conseguia fazer dela, dentro dos parâmetros aceitáveis para alguém com suas dúvidas, tranquila. No mais, se alguém a buscasse, hoje, ela não estaria. Precisava da companhia exclusiva de si própria. Um dia, talvez em breve, Isabela voltaria a se esforçar pra caber dentro da sua armadura e encarar tudo de novo, não agora, não por enquanto. Deixa tocar a campainha, deixa o celular chamar, deixa fugir dos outros, se o objetivo for se encontrar, menina. Deixa ser, Isabela, só deixa.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fica?

Fica por aqui
Vem cuidar de mim
Vamos ver um filme, ter dois filhos
Ir ao parque
Discutir Caetano
Planejar bobagens
E morrer de rir.
Fica bem aí
Que essa luz comprida
Ficou tão bonita
Em você daqui.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

sábado, 15 de setembro de 2012

A fraternidade é vermelha

- O senhor ama alguém?
- Não.
- Alguma vez já amou?
- Ontem sonhei com você.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Com açúcar

Passava sempre às oito. Tinha todo um gingado, parecia dançar quando andava dentro daquelas calças largas, o cabelo bagunçado e a cara ainda de sono. Eu ficava ali, sentada, a mesinha perto da porta e um capuccino pra começar bem o dia. Será mesmo que era o capuccino que fazia meu dia começar bem? Eu, com o olhar escondido por trás dos óculos, sempre observava quando o moço apressado passava do meu lado. Barba por fazer e café na mão, eu não conseguia conter o sorriso. Mas ele nunca me via. E eu, menina boba, sempre ficava os vinte minutos anteriores à sua passagem bolando alguma tática pra conseguir fazer com que ele virasse um pouquinho à esquerda, ou que ele notasse que não estava tão apressado assim pra comprar o café e ir embora, devia sentar um pouco... Ele parecia sentir e, por pirraça, decidir me torturar mais um pouquinho fingindo não me ver ali, naquele lugar tão estrategicamente visível. Até que virou rotina chegar às 7 e meia e planejar derrubar minha pasta pra ver se ele me ajudava a apanhar, todos os dias passando despercebida aos olhos de quem me fazia sorrir com mais facilidade. E como eu sorria quando ele chegava, quando ele tirava apressado a carteira do bolso e franzia o cenho por parecer não ser organizado o bastante pra encontrar a nota de dez reais com mais facilidade que as outras. Dava vontade de oferecer ajuda, jogar um "deixa que eu pago o teu, desse jeito você vai se atrasar", hora por ser boazinha, hora pra tentar uma aproximação com aquele rapaz que eu via todos os dias e sequer sabia o nome. As semanas passavam e eu sentia uma saudade esquisita dele todos os domingos, já que eu sempre acordava tarde demais pro café. Metódica que sou, nunca tinha reparado nisso, que eu levava falta na cafeteria todos os domingos. E ri comigo mesma por me pegar, na tarde do sábado, planejando acordar cedo no outro dia só pra testar. Acordei já de sorriso no rosto, coloquei aquele vestidinho florido, de tecido leve, sai com um semblante de menina feliz, prestes a ir no seu primeiro encontro, e não consegui disfarçar a decepção ao ver que já eram oito horas, que ele também não acordava cedo aos domingos, nem ia à cafeteria. Quanto burrice foi aquela minha, ele só devia ir naquela cafeteria porque era caminho do trabalho. Quanta bobagem! Se eu tivesse sido um pouquinho mais esperta, teria atentado para o detalhe de que se ele sempre está apressado, é porque ele tem um compromisso. Mas fiquei feliz. Ainda me achando deveras engraçada só pela minha infantilidade de conseguir se divertir com a perspectiva de topar ali com um desconhecido que nunca havia me dirigido a palavra. Tomei meu capuccino e fiquei, na mesma mesa, com o mesmo sorriso. Após terminar, fiquei mais um tempo sentada, tentando bolar um itinerário para a minha manhã de domingo; Que situação inovadora era aquela! E a garçonete recolheu minha xícara e deu me deu aquele sorriso de "eu sei o que você tá fazendo, moça". Senti-me desmascarada e ridícula e cômica, tudo ao mesmo tempo, tanto que lhe devolvi um outro sorriso, um dos tímidos. Pedi outro capuccino, pra levar, desta vez, com muito chantili. Quando procurei apressada o dinheiro dentro da bolsa, ouvi uma voz me dizendo que o café que uma pessoa tomava dizia muito sobre ela. Tremi ao levantar a cabeça. Tanto, mas tanto, que quase derrubo o café, a bolsa, a carteira e também me derrubo no chão. O maior dos meus sorrisos foi aquele, que eu dei quando respondi que, então, eu devia deixar muito na cara que era uma gordinha com tendências diabéticas, por tomar algo tãaao doce e tão cedo. Ele sorriu de volta e virou-se para o balcão, pedindo um expresso sem açúcar. Eu, atônita, ainda desconcertada, já estava saindo até que ele me pediu que o esperasse. Sentindo-me mais menina que nunca, esperei. Fiquei ali, brincando com a alça da bolsa, mordiscando o copo, sentindo a face ruborizada. Ele pagou o café, dessa vez parecia sem pressa:
- Sabe, pensei que eu fosse o único que acordasse cedo aos domingos. 
Eu, ainda calada, não parava de sorrir. Mal sabia o moço, que eu ainda não sabia o nome, que eu comemorava minha ousadia por dentro.
- Quanto ao seu café, não acho que seja uma gordinha diabética, só uma menina doce. 
Mais vermelha que nunca, eu virei e perguntei seu nome. Com um olhar levemente assustado, ele me disse que era Caio. 
- Então, Caio, devo concluir que você seja uma pessoa pouco observadora, prática e amarga?
- Ah, nem tanto. Só que eu sou o cara que tem vergonha de sentar na mesma mesa que a mulher aparentemente mais confiante e paradoxalmente meiga que já vi na vida. E que, ironicamente, eu ainda não sei o nome.
- Alice. 
Naquele minuto, ainda num riso, eu senti que podia ser todo o açúcar que o café preto dele precisava. 

Uma fé larga e indiscutível

Amanhã serei bem mais feliz.

domingo, 2 de setembro de 2012

Uma nota

Tristeza mesmo é quando o vinho acaba, mas a madrugada não. 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Do dia

De hoje em diante passei a odiar filmes e à capacidade que eles têm de fazer com que a gente se identifique com aquele personagem, justo aquele, que a gente tanto não queria parecer. Passei a me sentir enjoada por essa intuição barata de que todos os problemas do mundo são iguais. Passei a não acreditar nos finais felizes que já não acreditava tanto desde antes, mas que sempre usava para justificar os meios tristes. Passei a querer interromper os meios, inclusive. Os tristes, especialmente. Passei a ter a certeza que desacreditar pode ser a melhor maneira de conseguir viver com as próprias dores. De hoje em diante, eu resolvi voltar para mim.

domingo, 19 de agosto de 2012

About the pain. Her pain.

Eram tantas frases soltas, esquecidas e dolorosas jogadas no ar daquela sala, que Luísa não sabia a qual se ater. Sentia-se limpa. Dolorosamente limpa. De uma organização impecável, que chegava a incomodar. Saiu de casa em busca de respostas que já havia encontrado, e que clarearam na mesma proporção em que a noite se tornava mais escura e silenciosa. E se fazia dela, aquele silêncio, que tanto falava. Ventava. Tanto. Tinha dificuldade para acender o cigarro. A menor delas. A cada trago, uma constatação. A cada gole quente de vinho e a cada solo do Pink Floyd, uma nova certeza. Nenhuma alegria, ou quase. A verdade. Ainda assim, complicada. E se despia e falava de si e esperava que o motivo a que tanto se dedicava aparecesse. Mesmo sabendo, de alguma forma misteriosa e irrevogável, que não apareceria. Devia ser sua sina, aquela. Não dela. Não só dela. De uma sequência de gerações. Como ousara comparar, num riso: quase uma nova versão dos Buendía, de García Márquez. Não fazia doer menos. Ainda que tivesse a consciência dos fatos, não poderia alterá-los. Então, tornava-se fácil entender porque se entregava. Porque superestimava dores tão pequenas, aprofundava cortes tão superficiais. Justamente por querer fugir da superficialidade, por lutar por algo diferente. E a impressionava tanto, que a diferença que buscava fosse tão igual a de tantos outros, talvez por saber que não conseguiria nada além. O que poderia trazê-la mais vida que outras vidas? Mas tinha uma dificuldade anormal  em mantê-las. Até conseguia tê-las, ou quase, por tão pouco. Sempre passando perto, nunca conseguindo. Luísa queria mudar o mundo, começando pelo seu próprio. No máximo, conseguiria mudar os móveis do  seu quarto de lugar. Era uma mudança, por mínima. E se acomodou tanto, aquela moça. Como já teve mais esperança. Ardia dentro do peito a confirmação de que era tarde, por mais que fosse cedo. Que todas as oportunidades já haviam sido perdidas, mesmo precocemente. Pensava, inclusive, se aquilo era certo, aquela maturidade forçada, imposta, não só por si, mas também por si. Aprendeu a qualquer custo e o preço foi alto demais para uma mulher que nem sequer era mulher ainda. Era menina, só não sabia brincar. E possuía tantas outras Luísas que tentavam se sobrepor com historinhas bonitinhas ou com realidades paralelas. E tentava tanto continuar sendo forte, mesmo quando a vida não tinha pena de bater, estava conseguindo, supunha. Suposições... Como estas lhe doíam. As incertezas. Martirizava-se pelas incertezas. Luísa era de uma racionalidade doentia e desumana. Podia até repetir para si que talvez fosse toda amor, até seria, até o era também, mas não passava de um cérebro ativo, de uma mente a mil. De alguém que tinha a percepção de cada centímetro que afundava e que afundava cada dia um pouquinho mais. Não sabia qual dos seus figos ainda não estava podre e a figueira continuava à sua frente. Caíam. Eram muitos, mas caíam velozmente. Logo seriam escassos e ela ainda estaria ali, parada. E meu Deus, eu não tenho nem vinte anos e já desisti de ser feliz. O figo caiu, Luísa não tinha culpa, estava podre. Tinha outros... Não condiziam, qual será o certo? Vanessa, ajude Luísa, por favor. Vanessa, tenha pena dela, ajude-a! Aquele da esquerda pode ser o mais indicado, está mais fácil de pegar. É pequeno, pegue outro, Luísa. Você só pode escolher um. A escolha foi feita, agarre-o. Não desista ainda, Luísa! Busque uma escada, pegue o figo certo, não escolha os mais baixos, estes não são pra você. Corra, ainda é tempo. Suba na árvore, você já caiu antes, corra! Não brinque, Luísa, você não é menina, seja mulher. Seja mulher uma vez na sua vida! São tantos figos, só um é fácil. Nem tanto. Ela tenta pegar, escorrega, foge dos seus dedos, parecia pequeno mas é grande demais para os dedos finos daquela menina-mulher. É esse. Só pode ser ele. Não vou soltá-lo. Não vou deixar que você o solte, Luísa. Daqui a trinta anos, se você não tiver nada, você poderá tê-lo, ainda. Tenha. Não deixe esse figo cair. Segure algum, segure este. É o menos apetitoso, é o único que você será capaz de comer. É o seu, mesmo que não pareça agora. Segure-o, fará sentido.

sábado, 18 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dark side of the Rainbow

Era daquelas meninas-sínteses, mal do século, resultado das quebradas de cara anteriores, quase genéricas no ano em que estamos. Das que muito sabem - ou fingem saber - dos outros, enquanto, de si, sabem pouco ou nada. E ela, exatamente neste molde, não sabia sequer se sabia. Mas, mesmo dentro da sua generalidade, era peculiar. Possuía duas características que lhe diferiam das demais: coragem e ousadia. E como era ousada, quando empinava o nariz e saia toda arrumadinha e independente por aí, sem precisar de ninguém nem de nada, só dos seus passinhos apressados dentro dos sapatos vermelhos. Uns fones com o Dark side of the Moon eram suficientes para a fazerem se sentir a Dorothy. E era corajosa cada vez que sentia seus problemas menores do que o que realmente eram, mesmo que alguma parte dela gritasse incansavelmente que ela não estava preparada para enfrentar nada. Estaria. Sempre estava. Minha Dorothy não era do tipo que se entregava fácil. Era do tipo que sabia que, mesmo que não resolvesse, aquela velha dose de vodka na beira da lagoa a faria se sentir melhor e boa o bastante para tentar de novo. E tentava. Também incansavelmente. E podia até se machucar a cada queda, que ainda iria se reerguer. Nem que fosse pra cair de novo. Qualquer segundo em pé já seria melhor que outro no chão. Não passaria a vida esperando alguém chegar para levantá-la, tinha pernas para isso. E recebia críticas, dos poucos que tinha. Cada um tentando, do seu modo, colocar um pouquinho de juízo na cabeça da menina inconsequente que media as consequências, paradoxalmente esperta ou ingênua. Duvidava acreditando em si. E tinha frases perfeitas, que encaixavam perfeitamente dentro de toda e qualquer história que alguma de suas amigas - também genéricas - contavam. Entendia. Já tinha doído aquilo em si. Mas, quando a dor passava, aquilo tudo parecia ter sido lido em algum lugar, as cicatrizes se esvaiam. Não tinha mais medo de arriscar, talvez por não ter nada a perder. Então aumentava o volume em Brain Damage e seguia aquela estrada de tijolos amarelos, por enquanto não tão clara quanto ela queria, mas que seria a única capaz de levá-la a algum lugar.  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Talvez, tal vez, aquela vez...

"Se você hesita é porque pensa a respeito, nem que seja por um segundo. 
Se pensa a respeito é porque existe uma chance."

domingo, 5 de agosto de 2012

Contrapartida

Luísa era especialmente nostálgica aos domingos. Neste domingo, fora ainda mais que nos outros. Nos últimos dias havia sido tomada por uma sensação indescritível e indiscutivelmente incômoda. Sentia-se fugindo de si, ao buscar algo que estava aquém, mas que lhe era indispensável. E doía essa ausência do desconhecido. Esta necessidade. Para ela, "precisar" sempre foi a palavra mais forte de todas, maior que qualquer amor ou qualquer ódio. Indicava dependência. Dependência a assustava. Dizia-lhe o dicionário que depender era estar subordinado, estar sujeito. Na prática era ainda pior. O que poderia ser mais preocupante que estar subordinada e sujeita a algo que não conseguia sequer descobrir o que era? Havia passado uns bons dias buscando respostas incessantemente, sem encontrar nada que lhe fosse válido. Andava em círculos. Como se a cada uma das vezes que julgasse estar perto da descoberta da sua vida, perdesse o equilíbrio e caísse exatamente do lado oposto. E achou uma razão, duas, três... nenhuma foi capaz de convencê-la. Virava doses como água, na esperança que o álcool a fizesse desfocar o pensamento, mas o efeito era inverso. Luísa esquecia de tudo, lembrava apenas do que tentava fugir: da dúvida. E esta dúvida que a consumia não tão silenciosamente quanto ela desejava, a estava destruindo vorazmente. Sentia-se letárgica. De uma morbidez que causava pena. E dentro das suas diversas horas de sono, um sonho, feito um presente, foi capaz de abrir seus olhos para tudo que a rodeava e para aquilo que rodava tanto dentro de si própria. Luísa sabia da sua aflição. Sabia de si. Mesmo que não dependesse apenas dela colocar as coisas em ordem, aquela informação causou na menina uma profunda paz. Como se aquela tempestade que imaginara pouco antes, não passasse de uma garoa que, mesmo sendo levemente irritante, seria fácil de contornar, bastava apenas focar no que importava. Aquilo era secundário. Passou dias entregue a uma dor baseada no secundário. Algo dentro dela tentava se manifestar, fosse em forma de raiva ou de calma. Mas agora tinha o controle, tomara as rédeas de novo, era toda calmaria. Bastava querer. E queria. E nada causaria em Luísa um alívio maior que ter o controle. Saber onde estava pisando era maravilhoso. De resto, continuaria a levar seus dias como uma partida de xadrez. Tentando prever as próximas três jogadas, estrategicamente traçando seu próprio destino. Nem se importava que as circunstâncias não estivessem a seu favor, ela estava, só precisava de si, só dependia de si. E era toda dela. Luísa havia voltado. Desta vez, feliz.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Conversa de botequim

- Sabe, talvez esse tempo, essa situação meio comum e meio inusitada, essa incerteza, tudo isso, esteja servindo para eu começar a enxergar a minha vida sob outro prisma.
- Qual?
- Não sei. Mas eu posso sentir que a chance tá aqui, mesmo que eu ainda não a tenha alcançado.
- E por que não começa, sei lá, a tentar agarrar isso?
- Eu tentei outras vezes. Tenho medo de escorregar de novo. Eu só torço para que, um dia, eu possa levar uma vida normal, como as outras pessoas parecem ter. Que esse nó na garganta se desfaça, de um jeito ou de outro. Só torço por isso. Que ser instável deixe de ser meu estado de estabilidade.
- Um dia chega.
- Não consigo ser tão otimista.
- Eu gosto de ter esperança.
- Já me frustei demais. Esperança é o primeiro passo pra quebrar a cara.
- Eu sou frustrada demais. Se não me apegar à ideia de que as coisas vão melhorar, de algum jeito, algum dia, eu me jogo na frente de um caminhão ainda amanhã.
- Não tá tão tarde, o próximo ônibus passa daqui a meia hora, topa?
- Engraçadinha.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Just cause you feel it, doesn't mean it's there

Já era madrugada quando ela decidiu sair pra comprar uma carteira de cigarros. A menina, que não era fumante, se encontrava tão desesperada em busca de respostas que não conseguiu pensar em nada mais esperto a se fazer. Na volta para casa, constatou que as puxadas rápidas e sem jeito que dava naquelas maquinazinhas de destruir pulmões não serviriam de muita coisa. Mas Luísa tinha dessas, vez ou outra. Na ânsia de descobrir uma saída de si própria, encontrava várias outras portas que não davam em lugar algum. Não sabia o que tinha, eis o que mais a intrigava. Após 24 horas da mais pura - e sufocantemente doce - solidão, ela precisava trocar o pijama, por aquele vestido estampado e tentar mudar as coisas. Aquela inércia a tirava o fôlego. A ideia de algo (até então desconhecido, mas indiscutivelmente seu) errado, era desconfortável. Naquela terça-feira, Luísa ficou na cama até quase quatro da tarde. Ponderando o que poderia fazer. Tentando, primordialmente, constatar o que havia a se mudar. O que havia. Virava de um lado para outro como se, ao mudar de posição, as coisas fossem dar uma clareada. Angústia. Era isso, achava. Não, não achava. Isso que a angustiava. Deveria estar em ordem, mas não estava. Levantou e perdeu a conta de quanto tempo passou debaixo do chuveiro, tentando esfriar a cabeça, o coração. Tudo parecia arder. A comida não passava à garganta. Queria um abraço. Ninguém. E tentou chorar, mas se não haviam motivos, não haveriam, consequentemente, lágrimas a se botar para fora. Desejou ser mais mulherzinha. Em vão. Tão em vão quanto achar que encontraria alguma resposta naquele rolinho de ervas secas que queimavam entre seus dedos. Esquecer, de si, de tudo, talvez fosse a saída. Ou só seria outra empreitada em busca de uma saída inexistente? De volta ao apartamento, jogou as chaves sob a mesa, os cigarros também, atirou-se sob a cama, junto as suas dores remotamente injustificáveis e ficou ali, inerte, esperando seus pensamentos pararem aquele movimento incessante. Não dormiu. Mas sonhou, ainda assim. Com o dia que finalmente encontraria sua paz. Não hoje.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Let it bleed

Olha, hoje eu resolvi tentar deixar sangrar tudo de uma vez e acho engraçado você estar aqui pra sangrar comigo. Não que eu goste de te ver sofrer, eu não gosto, não me entenda mal, por favor. Pelo contrário. Eu te acho uma pessoa tão bonita, sabia? Por mais que você tenha a mesma mania feia que eu, de sempre se culpar por tudo, de sempre deixar o pessimismo e o masoquismo tomarem de conta. Você é admirável. Mas é que tá doendo tanto aqui, desse lado, e também vejo que do outro lado, do seu lado, dói, e eu me sinto compreendida. Ao menos você. E então aquela ideia base de botar um sorriso no rosto e tentar ficar bem vai pelo ralo, depois que a gente decide parar para ler aquele trecho daquele livro. Depois que a gente decide parar para confirmar que ficar bem é só a premissa pra ficar pior depois. E quanto mais eu tento me convencer de que não devo pensar assim, mas a vida chega com aquele aviso sutil de que é hora de acordar. Como se eu precisasse de um despertador a cada minuto do meu dia, lembrando-me que não devo sonhar tanto, que isso é aqui é a realidade, e a realidade é feia e feita pra sangrar. Espero estancar, mas não é hora. É hora de lembrar que algumas pessoas nascem para ser assim, complicadas, e que eu sou uma destas. Que não dá pra fugir. Que fugir é só ilusão, porque eu vou ser pega. Nem adianta ficar aqui brincando de mocinha madura, dizendo que é só me dar tempo, que é só deixar as coisas tomarem seu lugar, que é só tentar ficar bem até eu me por em ordem... Eu nunca estou em ordem. Ninguém está. Eu, especialmente. Nem você. Mas aí aquela sensação de impotência por não ser capaz de te ajudar começa a pesar ainda mais. Porque, no fim das contas, eu me vejo em você. Talvez, agora ainda mais que das outras vezes. Porque você passou por situações tão negativas quanto eu e isso aproxima as pessoas. Eu sei que ainda dá pra aguentar. Por isso que eu repito tanto que é hora de ser forte. Sejamos fortes. Pode até chorar, mas ergue a cabeça, amiga. Eu preciso de você forte pra continuar conseguindo segurar as pontas aqui do outro lado também. Não choro mais, embora tente. E ainda assim eu me desespero, eu fico perdida, tentando te ajudar pra ver se me ajudo também, sem sucesso em nenhuma empreitada. Então, de repente, a gente já tá junta de novo, falando que tudo que acontece agora é por culpa de uma conduta errada que nós tivemos anteriormente. Mesmo quando não há interligação alguma. É que bate uma tristeza em assumir que tudo que acontece agora é pelo que somos no momento em que não fazemos nada para mudar, além de nos queixarmos. Não muda. Nem resolve. E nem sei se precisa resolver, pra ser sincera. Até porque essa insatisfação crônica pode ser justamente o estágio de normalidade que tanto lutamos para alcançar. De que adiantam todas as promessas feitas no dia anterior, se hoje, depois de duas frases, todas as certezas despencaram do mesmo abismo que eu me encontro agora? Deixa doer. Deixa sangrar. Um dia o sangue esgota e nós voltamos a tão sonhada estaca zero.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Unhappy three friends

Era engraçado. Luísa sempre foi uma menina diferente das demais. Tinha aquele ar de arrogância peculiar das meninas complicadas. Sorria sempre de canto de boca, como que pra demonstrar uma superioridade que nem ela mesma sabia se tinha, mas que a confortava. Acostumou-se desde cedo a conviver com a solidão, sua única verdadeira companhia. Até então. Foi quando encontrou seu primeiro amor. Garotos? Não, Luísa não era do tipo que deixaria seu mundo virar ao avesso por causa de um envolvimento emocional qualquer. Sua primeira amiga. Virou parte de si própria. Isadora trazia Luísa à vida quando, nas suas diárias crises existenciais, ela pensava em deixar tudo de lado e jogar pra cima o pouco que possuía. E, por mais que doesse, acalmava-se por saber que, no meio da noite, no meio de um choro qualquer, aquela voz sonolenta do outro lado da linha iria dizer que as coisas iam ficar bem, que aquela pessoa que fazia de tudo por ela, também a ajudaria a segurar as pontas até que recuperasse sua habitual força para lidar com seus habituais problemas. Virou hábito. Passou a habitar, inclusive, um espaço enorme na casa e na menina. Mudam-se os tempos, mudam-se os lugares... as duas continuavam as mesmas, até pelo pacto que haviam feito, depois de tantos segredos compartilhados e histórias para contar aos netos. Não foram poucos os dissabores que Isadora tomou como teus. Os dias, generosos, resolveram presentar Luísa mais uma vez. Na nova cidade, entre os novos rostos, talvez com um pouco de atraso, eis que a menina de nome sugestivo apareceu para dar mais cor àquele outro céu. Elis, numa proporção que batia de frente com o tempo, encantou a menina. Talvez por compartilhar das mesmas dores, dos mesmos medos. Ambas sofriam. Inicialmente, não caladas. Contudo, devido às diversas tentativas de fazerem as coisas certas e ao indiscutível sucesso em não conseguir realizar esta façanha, calaram. Preferiam ouvir. Evitar falar, para ver se assim não ouviriam um “eu te avisei” mais à frente, que de nada adiantava, mas que já se fazia costumeiro. As duas erravam. As duas começaram a encarar seus erros com mais tranquilidade e calmaria, pois não eram as únicas, e àquela altura do campeonato, não estar sozinha no barco já era uma vitória. Reuniram-se as três e viram o quanto tinham em comum. O cômico era que a dor as havia unido. E era justamente esta dor que ia embora depois de cada conversa, de cada bebida, de cada loucura, de cada um dos detalhes mínimos que começaram a fazer toda a diferença. Então Luísa ria. As três meninas erradas, errantes, agora tão mais maduras e tão mais completas, estavam crescendo. Por mais que o presente doesse, haviam chegado ao consenso de que as coisas seriam mais bonitas no futuro. E se não fossem? Ah, se não fossem elas continuariam se reunindo para seus vinhos na madrugada, para seus planos de organizar massacres em conjunto, ou para dominar o mundo. Até porque, com aquelas três juntas, nem o diabo podia... AVALIE, essa coisa pequena e mesquinha, a vida! 

Drama queens

"Amiga, eu gosto de ti porque é contigo que eu aprendo a ser ainda mais dramática. E olhe que era uma coisa que eu nunca achei que seria capaz."

Da coisa mais bonitinha que eu li no dia do amigo. :)
Thanks for everything, baby!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Para nós, todo o amor do mundo. E um bocado mais!

Dia desses eu parei para refletir sobre essa minha mania feia, de só falar o que deve ser dito em última instância e que, infelizmente, eu não consigo mudar. Ah, que bom seria se falar fosse tão simples quanto escrever. O problema é que sinto as cordas vocais me traindo, a face enrubescendo, as palavras chegando desconexas à boca e uma dificuldade em organizá-las fora do comum. Mas não quer dizer que eu não tenha a dizer, talvez tenha tanto que não sei por onde começar. A você, principalmente. E durmo todas as noites com a vontade de chegar pra ti e dizer-te que você é a pessoa a quem dedico todo o meu amor, carinho, afeto, orgulho, admiração... Você é a pessoa mais bonita e mais humana que já conheci. Não meço palavras para dizer a todos os meus amigos ou a qualquer estranho que vejo na rua, o quanto meu pai é especial. O quanto meu pai é um homem íntegro, inteligente, maravilhoso. E sinto meus olhos marejarem sempre que falo em você e você não está lá pra ouvir. Ainda mais por saber que, se estivesse, eu não teria coragem pra falar da forma que falo. Mas não é novidade pra ninguém, nem mesmo pra você, por mais tácita que seja minha maneira de demonstrar esse sentimento. Eu me vejo em você, papai. Você é minha versão melhorada, é o que eu sempre almejei e almejo ser quando eu "crescer". Sabe que, incontáveis vezes, eu paro pra pensar o quanto eu sou sortuda em te ter. Porque mesmo nós dois sendo assim, tão nossos e tão na nossa, eu só preciso do teu silêncio pra te entender. E mesmo eu me queixando da tua superproteção ou da tua maneira de fugir dos assuntos e sempre me deixar sem uma resposta, eu não consigo visualizar uma vida onde você fosse melhor do que já é. Porque você é meu herói, por mais clichê que pareça. Falam que clichês são é verdade, não é? Então, deve ser. Porque o amor que eu tenho por você é imensurável. E mesmo esse meu jeito que vai da timidez ao retardo mental não permitindo que eu chegue pra você e fale tudo isso enquanto eu te abraço, é assim que eu me sinto, até quando estou emburrada e dizendo que ninguém me entende. Porque mesmo que eu me sinta incompreendida, eu te entendo. Eu entendo a tua preocupação e me sinto lisonjeada por ser dona dela. E, acredite, toda a minha ânsia de fazer as coisas da melhor maneira, são pra te orgulhar, pra te alegrar... Para que eu seja capaz de retribuir pelo menos um terço de toda a alegria e orgulho que o senhor me proporciona. Obrigada por parecer tanto comigo e ainda assim tentar ser paciente. Eu te amo muito, e essa é a maior certeza que eu tenho na vida.

sábado, 14 de julho de 2012

Hoje eu acordei com medo, mas não chorei


Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

To wish, to smile, to wait

Era uma quarta-feira à noite quando Luísa decidiu sair para tomar um café. Por inocência ou descaso, esquecera completamente que aquele era o dia onde os brasileiros que não tinham com o que preencher o tempo e/ou a cabeça, saiam para assistir o futebol semanal e fazer barulho nas ruas. Mal precisou chegar à esquina para ver que não tinha feito tão bom negócio quanto pensou que fizesse. Estava tranquila, de verdade. O que queria dizê-la, mais que qualquer outra sensação, que precisava pensar. E gostava do silêncio. Pra pensar, primeiramente. Lembrava-se de um vídeo científico que havia visto havia poucos dias, que, num trecho específico, dizia, em síntese, que podemos enxergar de duas formas: com os olhos, o que chamamos de visão; e com o cérebro, o que chamamos de imaginação. Aquilo se manteve em sua mente por um tempo e não saiu da sua cabeça durante toda aquela quarta. Luísa só queria sentar sozinha, na mesa do canto, tomar seu café sem açúcar, refletir um bocado e enxergar com o cérebro. Agradeceria se os apaixonados por esporte a permitissem realizar esta pequena façanha. Queria tanto que, mesmo considerando essa última análise improvável, seguiu caminho. Foi a pé, gostava de caminhar, era perto, não havia perigo. No mais, sentia-se saindo diretamente de um filme do Woody Allen, quando colocava as mãos dentro do bolso do casaco e seguia com aquele ar de mistério a algum lugar que as pessoas não seriam capazes de supor. Brincava muito com isso, consigo mesma. Talvez por ter a mania de observar demais, sempre acreditava, no fundo, que havia alguém a observando. Estava certa, algumas vezes, noutras, nem tanto. Naquele dia, ela era só mais uma pessoa nas ruas, por mais que com um propósito diferente. Quinze minutos depois, ela estava abrindo a porta do café e constatando que encontrar a paz seria mais fácil do que supôs. Sentou, abriu seu exemplar de Cartas Chilenas (livro que sempre começava, mas sempre deixava por terminar) e sorriu. Não demorou também a perceber seus pensamentos se dispersando, atravessando milhões de atmosferas e depois voltando para um mesmo lugar, o de sempre. Luísa sorria. Assustada, mas sorria. Sentia-se tão perdida na sua leitura quanto Paris Hilton se sentiria ao ler algum dos escritores malditos, então decidiu fechar o livro por ali. Logo após fazer o pedido ao garçom, decidiu que ficaria apenas onde estava, levemente encostada à parede do lado, sentindo-se abraçada pelo estabelecimento, literal e figuradamente, pensando e supondo, os dois gerúndios que mais gostava e também os mais perigosos. E continuou sentada, vendo algumas coisas com mais clareza, buscando clarear outras... nem sempre obtendo sucesso. Quando alguma de suas ideias a desconfortava, era fácil voltar àquele lugar e enxergar tudo claro de novo, como se a solução estivesse sempre à sua frente. Doíam-lhe, algumas suposições. Mas Luísa sempre foi deveras pessimista, tentava encarar os fatos e as suposições com outros olhos agora, nem sabia se era uma boa ideia, mas a estava confortando tanto, que mesmo que não fosse certo depois, só a premissa de parecer certo agora já lhe era suficiente. E então percebeu que, não era só quando pensamentos ruins lhe tomavam que ela voltava àquele lugar. Era sempre. A cada ponto final que se desse em sua mente, ela voltava para lá. Então, sorriu ainda mais, com uma sinceridade indiscutível. E continuou mexendo a colherzinha no seu café enquanto sorria e mantinha aquele semblante de paz que tão raramente era capaz de possuir. Estava contente, Luísa. Com medo e contente. Um passo por vez. Era mesmo melhor que ainda tivesse receio... A noite havia sido agradável, fizera um bom negócio em não desistir de sair de casa. Levantou e foi até o caixa. Quando terminou de pagar, o rapaz que seria o próximo a ser atendido a falou: “É um moço de sorte, ele. Dá pra ver no seu sorriso que é um moço de sorte.”. Luísa deu-lhe um sorriso de retribuição e saiu. Ao fechar a porta de vidro, que agora ficava para trás, e caminhar apressadamente de volta à sua casa, a menina pensava, incansavelmente: é um moço de sorte, ele. Dá pra ver no meu sorriso que é um moço de sorte. 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Nosso

É caso de loucura. De insanidade mesmo, de perder a razão, de se preocupar despreocupando. É de não saber como agir, se agir, o que dizer, se dizer, ou o que pensar e, ainda assim, fazer todo o sentido. É de duvidar e acreditar ao mesmo tempo, na mesma proporção, na mesma intensidade, inteiramente. De chorar e de sorrir. De não saber sequer se existe um “nós”, ou só “eu” e “você”, separados e subjetivos, devido à fuga do coletivo dada por um dos lados, mas ainda ser de planejar. O tempo todo. Do mais complexo ao mais banal. Do fim de semana ao fim da décima vida. É de perder o juízo cada segundo um pouco mais. É de encher a cabeça, de encher o coração, de esvaziar, reencher e encher a cara cada vez que doer. É de esperar, principalmente. De usar do autocontrole, de buscar uma paciência que nem sei se tenho , num lugar que nem sei se existe, de comandar impulsos involuntários e incontroláveis. De se arrepender e de supor. Supor como seria se eu tivesse feito diferente, se você tivesse feito diferente, supor como será do jeito que fizemos... E de supor se terá oportunidade de ser. De torcer, também. Pra que seja, especialmente. De querer compreender, de querer se fazer compreendida, mesmo que não seja uma questão de compreensão apenas. É de mim, sabe? Do jeito mais sincero e maluco que eu posso ter. É do meu afeto, tão perdido e imperfeito quanto eu, completamente louco de vontade de ser teu.

domingo, 1 de julho de 2012

He left no time to regret

Completamente perdida. Duas palavras formando um significado que definia com exatidão os últimos dias da menina. Não sabia para que lado andar, se é que devia andar. Não sabia se devia permanecer ali, inerte, por mais que doesse a angústia da espera. E se as coisas não mudassem sozinhas? E se precisasse mesmo de alguma conduta ativa para que tudo voltasse aos trilhos? Só o movimento de rotação da terra não parecia ser suficientemente forte para fazer tudo voltar ao lugar. Ela não parecia, inclusive, ser suficientemente forte pra tomar alguma decisão relevante. O tempo havia se arrastado de uma forma que seu desgaste físico e emocional era notório. Fazia com que se lembrasse de um poema que havia lido pouco antes de ter agido com inconsequência o bastante para fazer tudo desandar. Sylvia Plath, como de praxe: 
"What did my fingers do before they held him? What did my heart do, with its love?"
E agora era tudo diferente... Agora tinha que lutar para reconquistar cada espaço que se fazia vago, cada vírgula da história que ainda deveria ser escrita. Queria encontrar canetas. Mas o outro parecia escondê-las. Luísa estava incerta, incoerente, buscando as suas antigas dúvidas enlouquecidamente. Tudo fugia. O chão sumia, o ar parecia mais denso. Era uma sensação inédita e frustrante. O pior ainda era saber que não havia próximo passo a ser dado, a não ser dar ao relógio oportunidade de girar seus ponteiros.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coração na mão, como o refrão de um bolero

A dor-de-cabeça ela não sabia se vinha de fora ou de dentro. Ou se eram duas, distintas, elevadas, equivalentes. Não sabe quando tempo passou na cama, esperando que tivesse tudo sido um pesadelo e que,  a qualquer hora, ela iria notar que nada do que lembrava tinha acontecido. Não foi um sonho. A dor realmente estava ali. Havia botado a perder. Pulsava dentro dela como nunca havia pulsado antes. Cada vez que sentia seu coração bater era como se ele repetisse em alto tom: fracassei. A cada batida, a vontade de apagar os últimos dias vinha à mente. Não adiantava. Sabia que não havia muito a se fazer, ou até nada. E esta incapacidade de agir a tirava do sério. De repente, era tudo diferente, mas não menos importante. Pelo contrário, talvez só agora notasse que era ainda mais importante do que anteriormente supunha. E, mais uma vez de repente, sentia-se a caricatura dos amores difíceis, onde por mais que se tente fazer as coisas da forma mais correta, uma atitude estúpida estragaria tudo. Desta vez, ela havia sido estúpida. Por algum motivo injustificável, que ela tentava acreditar que existisse, mas não conseguia visualizar. Devia haver alguma coisa que a fizesse fugir de si o suficiente pra agir tão mediocremente. Não, não havia. Era difícil admitir, todavia, não haveria como haver. Nada justificava. Só doía. E confirmava: há diversas formas de morrer, de longe a pior delas é o arrependimento. Castiga. Amargura. Corrói. Reduz alguém ao nível de nada. Porém, "nada" implica em neutralidade, o que havia ali era descrédito, decepção, erro. Erro é pior que indiferença. É uma sensação completa, não vazia... Pela primeira vez na vida, ela preferia se sentir vazia. Também pela primeira vez, a dor da culpa era tão forte que ela não seria capaz de esvaziar. No outro dia, quem sabe, as coisas amanheceriam mais claras, ela saberia responder algumas questões internas e tantas outras externas. Provaria a outrem o que tanto sabia, e as coisas ganhariam toda a cor que ela havia enxergado naquele arco-íris bonito e breve, que Luísa tanto sonhava em ver de novo.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Alte liebe rostet nicht

Entra, senta aqui, vamos conversar. Não desiste de mim. Desculpa, acho que fui meio rápida demais na frase que antecedeu esta, deixa eu tentar recomeçar. Não quero deixar você assustado. Vem, senta aqui do meu lado, vamos tentar esclarecer tudo isso, toca na minha mão, vamos tentar deixar as coisas claras como esquecemos de deixar mais cedo. Eu me importo contigo, eu me importo com a gente. Eu queria fazer isso da forma mais saudável, mais bonita, eu queria fazer isso dar certo. Eu queria deixar de lado tudo que me amedrontou no começo, esquecer mesmo, não solta minha mão, não olha pra baixo, olha no meu olho. Tenta me entender, tenta me respeitar. Vamos analisar juntos se nossa relação é mesmo bilateral, cansei de notar que nós vivíamos em tempos diferentes. Às vezes eu não estava pra você, e de repente eu estava, mas você não estava mais. E doía, sabe? Não quero que isso se repita. Não quero ter que repetir isso outra vez, já falei tantas.  Fico tão preocupada, com tanto medo de não saber expressar o que quero. Sei que essa nossa conversa vai ser decisiva, porque olha, essa é tua última chance. Desculpa, não quero parecer estar te pressionando, embora até eu agora ache que eu esteja, enfim... É que realmente não sei lidar com tudo isso, sou meio esquisita, você sabe. Os tempos são difíceis ainda, mas se a gente se gosta, por que não tentar? Nós merecemos outra chance, não merecemos? Eu quero te dar outra oportunidade de fazer isso da maneira decente. Quero me dar outra oportunidade de sorrir ao ver teu sorriso de menino e teus olhos meio perdidos, meio vagos, meio de quem não sabe pra onde olhar, mas sabe que não deve olhar pra mim naquela hora, porque tá inseguro e não quer me passar insegurança. E eu quero que nós dois nos sintamos seguros. Quero que nós dois deixemos todas as incertezas que temos acerca um do outro de lado agora, ou então que a gente se deixe de vez. Sei que estar com alguém não é algo que precise de nenhum contrato, mas eu tenho algumas condições, alguns termos que gostaria de esclarecer logo, e pra que seja verdadeiro de verdade (perdoe-me a redundância, fez-se necessária), eu apreciaria muito saber se tu estás de acordo. Quando eu falo em estar de acordo, não entenda como um contrato de adesão, estes termos não são os que eu ponho à frente de cada relacionamento meu, são restritos, são seus, são tão pertinentes a nós que chego a me questionar por qual razão não os bolei antes. Lá venho eu, assustando-te novamente. Desculpa. Desculpa também por eu não conseguir parar de me desculpar, é que tenho tanta mágoa, tenho ainda tanto receio, mas  deixa. Eu vou deixar também. É frescura minha, sou muito mulherzinha. Embora não pareça. Sabe também que acho que não deixei as coisas aparecerem da forma que deveria... Parecia tão errado, não tinha como eu evitar de me sentir insegura. Sei que segurança é fundamental pra você. Embora seja tão instável quanto eu, só não tenha a mesma ousadia que eu tenho em assumir isso. Não foi uma afronta, não quis te atacar. Pelo contrário, embora eu me expresse demasiadamente áspera, por vezes, tudo que menos quero é chegar atirando pedras. Não tenho só o teto de vidro, sou quase uma estufa, difícil vai ser encontrar um lugar em mim que não quebre. Prometo tentar me blindar, ou ao menos ser o mais resistente possível pra que isso dê certo. Queria simplificar tudo, não queria tecer um monólogo. Vem cá, segura a minha mão, por favor, eu preciso desse contato físico pra ter a certeza de que você ainda tá aqui. Seria tão mais simples jogar os termos que falei anteriormente na tua cara e esperar pra ouvir os teus e assinar embaixo, sem discutir, sem modificar o combinado. Sei que não é fácil, nunca foi. Eu fico tentando ser paciente agora, tenho medo que minha ansiedade inquestionável tenho sido peça integrante e a base dos erros anteriores. Não vou resumir nada, é. Vou falar minuciosamente que te gosto, sem me preocupar se você vai acreditar ou não. É tudo que tenho, minha palavra, lembra? Eu preciso de você. Pra contar que as coisas vão bem, pra assistir aquele filme deitada sobre tuas costas e pra acordar de conchinha na manhã seguinte. Preciso de você pra acreditar, junto de mim, que só foram tempos difíceis, mas que as coisas podem dar certo. Preciso de você pra me fazer acreditar que nem todo homem é canalha. Preciso de sanidade mental, preciso de discernimento pra conseguir lidar com tudo isso antes de ficar louca, se é que já não estou. Preciso que você perdoe meus erros para que possamos começar isso da forma correta, preciso conseguir te perdoar também, mas eu sei que consigo. Por que a gente tem que se preocupar um com o outro em segredo? Preciso que você faça por onde merecer minha entrega. Eu planejo tanto, você nem sabe. Desculpa, não quero te encher com isso, sei que a essa altura do campeonato você já deve tá cansado de me ouvir e com uma vontade danada de apoiar a cabeça nesse sofá e tirar um cochilo antes de eu terminar, mas me ouve, só dessa vez. Ouço discos inteiros pensando na gente, penso o quanto seria bom ter o direito de nos identificar em algumas letras, penso também o quanto seria bom poder ouvir algumas delas contigo. Penso até se você repararia no mesmo que eu, gostaria do mesmo trecho, preferiria a melodia à voz, ou vice-versa. Penso em ti, sabe? Penso no que poderia ser. E quando a gente dá esses nossos surtos de se fechar e parece que já nem lembro de você, só parece. Porque eu fico, cá com meus botões, lembrando até com uma vitrine que vejo na rua, vendo teu rosto em cada gota d'água dessa chuva. Uma vontade enorme de caber inteira no teu abraço. Sinto falta de cada coisa que a gente não viveu. Nem precisava que essa nossa história fosse eterna, só precisava que ela não enferrujasse com a chuva em que eu te vejo, nem com a maresia... Porque, olha, eu queria tanto deitar na areia da praia contigo e contar as estrelas e viajar juntinho e que você me esquentasse quando eu estivesse com frio e continuasse me esquentando mesmo quando já estivesse quente. Eu queria tanta coisa, poxa. Mas agora eu só queria que a gente se acertasse. Juro pra ti, fico feliz se a gente só se acertar. Em definitivo. Ou para um não, ou para um sim. Deixar dessas pendências. Isso mata uma parte de mim que eu gosto, fico incomodada em perder justo esta parte. E te gosto, também. Tanto quanto esta parte. Será que essa parte é você ou será que essa parte é sua? Se for pensar bem, prezando pela sinceridade e clareza - estão nos termos, depois dá uma lida - na nossa relação, acho que é melhor eu abrir os olhos e me conformar que essa parte não é sua. Eu queria que fosse. Queria que você quisesse que fosse. Vê do que eu falo? Você me desconcerta tanto que nem sei organizar meus pensamentos de uma forma satisfatória e me volta aquela dúvida: "Deus do céu, será que este homem entende o que quero falar e em que situações eu me meto por gostar tanto dele?". E tenho tantas outras pendências, tantas outras dúvidas que deixei que descessem garganta abaixo sem me permitir discernir o sabor que tinham quando me passaram à boca. Um medo de que o que é castelo de pedra pra mim seja castelo de areia pra você. Não se preocupa, eu sempre tive esse medo, não é inédito. O único fato inédito é eu ter tido a coragem de te ligar pra tu vires aqui e eu te falar cara à cara tudo que eu estou te falando. Você nunca esteve na minha vida como eu queria que você tivesse estado, é tão confuso. Há tanto tempo eu penso nisso. Há tanto tempo eu penso em nós. Por isso eu fico assustada e por isso continuo achando que só te assusto. Não sei se cabe falar mais nada, não sei se algo do que falei tem sentido. Nem sei se tem sentido eu chegar e vomitar esse monte de informação de uma vez, por mais que no fim das contas tudo que eu tenha dito se resuma em tão poucas palavras e em tanto querer, tanto importar. Continuo em corda bamba. Você continua segurando minha mão. Não me deixe cair. Puxe-me. Seja pra perto de ti ou pra perto do chão. Deixa eu torcer em silêncio, ou nem tanto, pra que seja pro teu lado. Abrace-me uma ou duas vezes antes de me deixar ir embora. É isso. 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Desses de cinema

Amor que é amor é cheio de clichês. É cheio de mensagens na madrugada, de piadas bobas, de declarações esperadas e inesperadas, de noites de sono perdidas pra ver o outro dormir e de sorrisos. Sorrisos, especialmente. No fim do beijo, no meio da frase, naquela lembrança... Tem cheiro e jeito doces. Tem abraço apertado e saudade mais apertada ainda. Amor que é amor é assim, cheio de "mim" e cheio de "você". Completo. Leal. Apaixonadamente careta e absurdamente apaixonante. Amor que é amor tem seu rosto a cada ponto final que eu escrevo e tem sempre uma vontade de escrever mais, só pra te ver de novo. Só pra te imaginar sorrindo. Só pra sorrir também. Deixa a gente meio idiota, mas sem ser. Os que não se apaixonam é que não sabem o quão maravilhoso e racional pode ser isso tudo. Assumir riscos não é ser inconsequente, é ser corajoso, é encarar o incerto de frente. É parar durante o dia com a consciência de que cada incerteza se esvairá no momento que aquela voz pronunciar seu nome, daquele jeito único. É ser único, pra si e pra alguém. É fazer sentido. É razão e emoção, tudo ao mesmo tempo. É suave e bonito. Com dias nublados, também... mas com café e edredom pra compensar a falta de sol. Amor que é amor é seguro, saudável, gostoso. Assim, tipo esse meu, embrião, que não vê a hora de nascer.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Keep balanced

About choices

"Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself.
Choose your future. 
Choose life. 
But why would I want to do a thing like that? I chose not to choose life: I chose something else. And the reasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got heroin?"

sexta-feira, 15 de junho de 2012

So many for us

Luísa estava abraçada com sua almofadinha de coração, deitada em posição fetal, com o rosto vermelho escarlate e completamente molhado de lágrimas. Fingir que ia tudo bem arrancava diariamente uma parte dela. O sangue não estancava. Não havia nenhuma anestesia que diminuísse nela a sensação de estar se destruindo e furtando de si própria a chance de fazer as coisas da forma certa. O risco era tão alto que não sabia se tinha condições de arcar com as consequências. Então, no fim do dia, ela se jogava no sofá com a sensação de estar adiando sua vida. Sentia os olhos marejarem, buscava o pouco de auto-controle que ainda lhe restava, levantava e ia preparar um café para tomar enquanto trocava freneticamente os canais da tv. Como ela queria conseguir tomar uma decisão. Sair da inércia. E, naquele dia, tudo que Luísa conseguiu foi ficar pior que nos demais. Ao abrir a porta e se deparar com aquele corredor vazio, sentiu seu corpo gelar, como se o sangue fugisse, e de repente só o seu rosto estivesse quente. Jogou o chaveiro em cima da mesa da sala e ao entrar no quarto se atirou sobre aquela almofada, como se a apertando forte, ela conseguisse que as coisas dentro dela não se dispersassem ainda mais. Apertando forte, talvez tudo fosse continuar imóvel ali. Mas perdia um pouco de si a cada fração de segundo que não tomava uma decisão. E como queria adormecer e acordar com tudo diferente. Adormecer, pela primeira vez, sem passar horas ponderando como ela vai sofrer menos. Se vale o risco. Como vai ser se não valer o risco. Voltaria ela à estaca zero?  Uma grande perda não nos levava à estaca zero, mas sim nos leva a buscar enlouquecidamente algum tipo de estabilidade. E ela tinha alguma estabilidade agora, teoricamente. Estava tudo tão bagunçado e dolorido e talvez mais instável do que nunca. Porém, estava aparentemente calmo. E essa aparente calmaria a servia de consolo, vez ou outra. Tinha o controle de algo. Ter o controle não significava muita coisa. Talvez, se ela perdesse o controle, as coisas se acertassem. Mas se não? Se não ela estaria mais perdida e impotente que nunca. Como Luísa queria ser corajosa pra enfrentar as coisas cara à cara. Como Luísa queria fugir dos significados nas entrelinhas. E sonhava... tanto. Acordava doendo mais. Existiam tantos mundos preparados para tudo que ela queria viver, embora todos imperfeitos, poderia ser ideal. Ainda assim, poderia. Enquanto Luísa continuasse sendo uma covarde fugindo de tudo que queria por medo, aquela agonia persistiria, era sua única certeza. Luísa precisava soltar aquela almofada, levantar da cama, lavar aquele rosto, tomar seu café enquanto fazia uma ligação marcando um outro café. Precisava apenas disso: de dez minutos, coragem e uma conversa franca, olho no olho.  Até lá, ela se escondia ainda mais no seu casulo, torcia para que o mundo se refizesse e as coisas aparecessem cada uma no seu devido lugar. Era utopia, mas era tudo que tinha pra hoje. 

terça-feira, 12 de junho de 2012

O amor é um cão dos diabos

- outra cama, outras orelhas, outros brincos, outras bocas,  
outros chinelos, outros vestidos...
cores, portas, números de telefone.

Você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
Para um homem, você deveria ser mais sensato.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Estar perto não é físico

Confesso que me sinto demasiadamente assustada com a missão que me foi dada. Assustada porque, clichês à parte, escrever a alguém que nos importe é sempre uma tarefa complicada, que exige da gente um cuidado maior. E como falar de alguém que importe e esquecer de uma amiga que, mesmo à distância, sempre dá um jeitinho de se fazer presente? Sempre dá um jeitinho de mostrar que está ali, sempre à espreita, sempre cuidando... Uma amiga que me enche o peito de tanta saudade, mas que eu sempre guardo a certeza que por mais tempo que passemos sem nos ver, ainda será a mesma amizade, intacta, como se sequer tivéssemos passado um dia longe uma da outra. Uma amiga que me entende, que me respeita, que puxa minha orelha quando eu preciso e que, por ser deveras ligada às emoções, acaba por me ensinar a agir como alguém normal agiria. Menos cérebro e mais coração. Uma verdadeira professora nesse aspecto e em tantos outros. Digna da minha inveja por possuir um carisma e humildade ímpares. O tipo ideal para a definição “pessoa de um coração grande”. Sabe, ratinha, eu aprendi e aprendo muito contigo. Tu tens um jeito de enxergar a vida tão bonito, tão puro, que faz de você indiscutivelmente merecedora da minha admiração e apreço. O valor que você tem para mim é imensurável. Fico feliz por saber da solidez da nossa amizade e pela certeza de que, a qualquer hora, a qualquer dia, eu sempre terei você, seja pra compartilhar uma tristeza ou algo de bom que tenha me acontecido. Torço demais para que tudo dê certo pra ti. Saiba que, mesmo de longe, eu faço questão de acompanhar tua vida e teu sucesso, porque o teu sucesso também se faz meu. Cuide-se, sempre! Um beijo da rata de laboratório branquela que mais te ama no mundo inteiro. Sua amizade é uma das coisas mais valiosas que eu tenho na minha vida, nunca esqueça disso. Morro de orgulho de ti.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Karamázovi

Plural de Karamázov. Seria, simbolicamente, aquele que com seu comportamento desacertado dá os rumos do próprio destino.


Que mocinha peculiar era aquela. Sempre com seus passos rápidos de quem está com pressa, mesmo sem estar. Sempre com os dois braços trazendo fortemente o livro pra perto de si como se ele fosse fugir caso ela não o abraçasse daquela maneira. Era nova ali. O que a deixava ainda mais desconfortável e aflorava ainda mais a sua indiscutível timidez. Os primeiros dias foram os mais difíceis, como sempre são. Havia conseguido um emprego de meio expediente em uma loja, que daria para conciliar com as aulas que assistia durante a noite. Estudava história. Não sabia exatamente o que queria ser, nem tampouco por qual razão resolveu estudar história. Mas gostava, à sua maneira. Saia do trabalho sempre às 14h. E, sempre às 14:30, passava num banco próximo à sua casa. Na maioria das vezes para checar o movimento bancário da sua conta, realmente, outras só pra não sair da rotina. Sentava, abaixava um pouco seus óculos, abria o livro e ficava lendo, quietinha, até as 15:30. Não lembrava de alguma vez ter descumprido este trajeto diário. Ao chegar em casa, punha suas coisas em ordem, revisava alguma matéria para a aula, ia à universidade e deitava assim que voltava. Mas não dormia. A menina gostava de imaginar, era uma sonhadora por excelência. Criava milhões de galáxias e paraísos enquanto repousava sua cabeça naquele travesseiro. Morava sozinha, mas sempre dava "bom dia" ao acordar. E assim a vida seguia... Da forma que sempre fora, metodicamente planejada, e ainda com a esperança de algo novo que viria e deixaria as coisas mais bonitas e mais parecidas com aquele filme francês que a mocinha gostava. Sentia saudades da família, vez ou outra, nada gritante. Precisava de um espaço que só agora possuia. Mesmo complicado, aquele primeiro passo à independência era fundamental para que ela alcançasse o que almejava. Com o passar do tempo, começou a enxergar naquela nova cidade o seu lar. Já não era mais uma estranha, embora não tivesse amigos e todos os contatos que estabelecera com outros seres vivos tenham sido superficiais. Comprou um peixe beta para lhe fazer companhia. Era uma segunda-feira quando a menina vinha abraçada a "Mulheres", de Bukowski. Naquele dia foi diferente. Com sua cabeça baixa e seus passos rápidos, eis que misteriosamente a menina percebe um rapaz passar por ela. Seria só mais um no meio de tantos, caso este outro também não tivesse suas próprias peculiaridades. Tinha um jeito calmo que contrastava com sua aparência. Se o tivesse visto em alguma fotografia, a moça o imaginaria sorrindo, agitado e com olhos firmes, e não com aquele olhar vago e aquela boca pequena quase escondida pela barba. Ainda não fora isso que chamara sua atenção em especial, mas um caderno personalizado que o moço trazia consigo: capa preta, dividido no máximo em cinco matérias e escrito em letras grandes "Se Deus não existe, tudo é permitido?". Dostoiévski, Os irmãos Karamazov. Não havia duas semanas que a moça tinha lido o livro de qual a citação havia sido retirada. Checou no relógio, 15:12. Levantou e foi embora, envergonhada, completamente sem jeito, morrendo de medo de se fazer notada, pela primeira vez não cumpria com seus horários e uma adrenalina imensurável lhe tomava as veias. À noite, refletira se já o tinha visto alguma vez antes e tivera deixado passar despercebido, mas não, era a primeira vez, ela lembraria. O que, em partes, a desmotivava, já que não saberia onde lhe encontrar. Na terça-feira, lutando para se fazer aparentemente normal, a menina foi ao banco na esperança de reencontrá-lo. Ele estava lá mais uma vez. Desta, trazia consigo um exemplar de Ariel, da Sylvia Plath. Foi pega de surpresa quando viu o rapaz ultrapassar a área de clientes e tomar o lugar de um outro atendente. Ele trabalhava ali. Superado o choque, a menina continuava indo ao banco todos os dias, o rapaz sempre estava lá, inclusive foi atendida por ele algumas vezes. Seus olhares nunca se entrecruzaram, ele nunca ouviu da boca dela nada além de um "obrigada", mas para a moça havia uma amizade ali. Ela o tinha incluído na sua rotina. Ao chegar em casa, martirizava-se por nunca fazer as coisas diferentes. Ora, eles se viam todos os dias e os dois sempre carregavam livros consigo, livro é uma coisa tão íntima, tão pessoal... e os dois tinham uma preferência literária tão semelhante. O rapaz também carregava junto ao  livro aquele caderno, que ela viu na primeira vez. Então, decidiu-se: ela iria chegar abraçada a Os Irmãos Karamazov, colocaria "inocentemente" à vista dele, então ele iria falar que também gostava de Dostoiévski e os dois iam se tornar amigos de verdade e ela teria alguém pra falar como foi o dia e pra perguntar se queria tomar uma cerveja com ela no sábado à noite... Ah, como a menina sonhava. Inclusive, levou dentro da bolsa aquele exemplar inúmeras vezes, mas nunca teve coragem de botar seu plano em prática. Até que um dia, um mês e doze dias depois daquele primeiro, ela finalmente estava determinada a deixar claro que também gostou do livro, que também gostava de literatura e que os dois deveriam ser amigos. E ela foi. Colocou o livro na bancada. Ele viu. Pareceu não notar. Cumpriu seu trabalho, ela o agradeceu e foi embora. Um mês e doze dias de espera acabaram de ir pelo ralo. 
- Moça?
O sangue lhe fugiu às veias. Mas não era o garoto do caderno que a chamava, era o próximo a ser atendido na fila. Ele levantou o livro da menina, que ela havia esquecido em cima da bancada. Era muito branco, alto e tinha um sorriso tímido no rosto. Ficou deveras envergonhada, mas foi buscar.
- É um bom livro.
- Oi?
- É um bom livro. Gosto de literatura russa, não pude deixar de reparar. Sou Vitor.
- Marina.
A menina sorriu sem jeito, as coisas finalmente começaram a mudar.

sábado, 26 de maio de 2012

E todos os destinos irão se encontrar

Luísa estava jogada na cama, chovia lá fora, tinha uma garrafa de vinho na mesinha de cabeceira, a voz de Chico vindo de alguma parte do quarto e aquele mesmo rapaz com seu corpo entrelaçado ao dela. Se alguém a pedisse para definir felicidade, ela definiria como aquele momento. Não conseguia entender o que havia nele que a fazia sentir-se daquela maneira, querendo a noite inteira para fazer samba e amor, sem sequer se importar com o sono na manhã seguinte. Nem com qualquer outra coisa. E Luísa fugia de uma resposta, por saber o risco que a situação em que mais gostava de estar a punha. Era insensato, era impulsivo, era importante. Era ele. A certeza de não saber o que estava fazendo a deixava desconfortável, mas o desconforto era indiscutivelmente menor que a sensação de estar em casa que aquele outro lhe trazia.  Então temia. Temia pelo fim da madrugada, não por preguiça, talvez por ser um pouco covarde... Temia pela ida dele. E dela. Pelo chamado da realidade, pelo mundo que existia fora do cobertor de lã que agora os cobria tão aconchegantemente. Ainda assim, aquela impressão de que era certo, mesmo que por um momento, a deixava satisfeita e livre de qualquer receio. Luísa não queria sair dali. Sentindo a respiração branda do outro em sua nuca, milhões de pensamentos irracionais lhe inundavam a mente. Queria se desprender. Estava farta de obrigações que ocupavam seu tempo, mas não sua alma. Queria abrir mão de tudo. Deixar de lado tudo que vinha lhe causando dissabores. Queria ser dele. Queria compreender em que situação se enquadrava, primordialmente. O que será que seria? O que viveria nas suas ideias? Buscava um sentido, por mínimo que fosse, que a desse a coragem necessária para fazer aquela noite virar dia sem medo do amanhecer. Já a dizia Chico que nem todos os avisos iriam evitar, já era prova disso, além de tudo. Não tinha governo, não tinha vergonha, não tinha juízo. Tinha vontade, apreço, carinho, memórias bonitas. E, por hora, isso parecia bastar. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fantasiando

Sabe o que eu acho engraçado? A minha mania de me sentir dona do que eu não posso possuir. Eu nunca vou ter escrito aquele trecho que descreveu minha vida e me fez chorar de emoção nas dez primeiras vezes que li, nem nunca vou ser a compositora da música que eu definiria como “a que me definiu”. Não dá para eu ter pintado aquele quadro que me fez ficar parada analisando cada detalhe, tampouco ter vivido a história que deu origem àquele filme encantador que assisti noutro dia. Mas eu me sinto como se pudesse. E nessa ânsia de poder sem poder, eu sou mais uma hippie nos anos 60 e sou outra jornalista solitária e complicada caminhando pela Times Square. Volto à realidade e por alguns minutos eu consigo ser a estudante de direito sem muitas aventuras mirabolantes na bagagem. Então percebo que pode ser mais divertido, viro na cama e sou a própria amante de Sartre, quando viro de volta já é hora de me aprontar pra mudar o mundo. E mudo. O meu mundo muda. E essa minha mania de mudança chega a cansar justamente por isso, pela constância na própria inconstância, como se na briga pra me transformar um pouquinho a cada dia, eu tenha caído numa metamorfose sem fim. Mas está tudo bem, as coisas estão lindas e eu tenho sorrido tanto. Quero continuar sorrindo com essa mesma vontade. Mas também quero algo novo. Às vezes quero algo hoje e amanhã não o quero mais, aquilo perde o sentido. Vê? Perde o sentido. Quero tudo, o mundo inteiro, você comigo... Quero querer. E quero. Quero entender. Só quero. Tento à toa, mas não importa. Quero continuar desse jeito meio torto e sem jeito, e quero até mudar continuando igualzinha. No fim das contas, eu acho que gosto mesmo de ser assim.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Art never comes from happiness

Eu sempre repetia sucessivas vezes que aquilo era psicose e drama enquanto Luísa continuava a me olhar com os seus olhos céticos de desprezo. Confesso que aquele senso claro de superioridade me tirava do sério. Mesmo sendo deveras calmo, tinha vontade de sair e gritar, com medo de que eu acabasse por perder o controle e quebrasse tudo que aparecesse na minha frente. Era desesperador discutir com Luísa, posto que ela se achava sempre certa e ocupada o bastante para ouvir minhas desculpas. Ou para me responder, fosse o que fosse. Dava de ombros e saia de perto, eu não era digno de suas palavras. Nas mesas de botequim aprendi que seria o sonho de muitos homens, digo, uma mulher que não discute, que apenas ignora e sai, contudo, na realidade é o inferno. Não um, mas o próprio inferno. Recolhida na sua capa de indiferença, Luísa calava e fingia não dar a mínima, mas dava. E eu pagaria por fosse qual fosse meu erro, tivesse eu errado ou não, porque sua raiva vinha feito veneno lentamente introduzido às minhas veias. E me doía vê-la tão conhecedora de leis e direitos, não me conceder a ampla defesa. Era em vão. Nos dias calmos, eu tentava falar sobre isso, mas a resposta era clara: não haveria resposta alguma, só silêncio. Com o tempo eu fui me adaptando, não por escolha, mas por não conseguir avistar outra saída, se é que essa adaptação pode ser tida por saída. E me sentia distante, como que deixando um pouquinho dela escapar entre os dedos a cada nova discordância. Confesso uma coisa: eu sou difícil de lidar, sei que sou. Ela também o é, não sei qual dos dois é mais. Gosto das coisas claras e de esclarecer tudo. Fujo do abstrato e subjetivo, porque embora cada um saiba de si, eu gosto de saber do nós. E não ligo que a mulher que eu tenha escolhido para viver e amar seja diferente, eu só me importo que ela finja não se importar só para me diminuir. (...)  Luísa havia calado, sempre foi fechada, mas agora ia além. Antes ela costumava me dizer que tinha dois grandes anseios na vida, e que seria uma mulher realizada se alcançasse qualquer um deles: ser imensamente feliz ou ser artista. Sim, artista, no sentido amplo. Atriz, compositora, escritora, pintora, qualquer coisa, contanto que fosse artista. E de tanto se apegar à literatura chegou ao consenso que só podia escolher uma das opções: ou seria artista ou imensamente feliz. Já a avisou Bukowski que a arte nunca vem da felicidade, então só poderia escolher um dos dois. Optou por tentar ser feliz e levar uma vida normal. Embora não toque mais no assunto, sinto que ela sente que fracassou. Luísa não se contentaria com tão pouco. Um emprego que ia bem, alguém que gostasse dela. Nada que outra metade do mundo fosse incapaz de possuir. E, para ela, a razoável facilidade de acesso à suposta felicidade que ela havia adquirido, acabou por tirar o encanto da sua vontade de ser feliz. Via-se saturada de viver sem ter vivido. Sem entrega. Sem mudanças. Só do jeito metódico que sempre preferiu fazer as coisas. Coisas tão suas que não aceitava críticas nem sugestões, nem minhas. Então eu me vi tentando suprir ausências, tentando me fazer necessário, sendo a luz de abajur que iluminaria toda a cidade do meu amor. Sem sucesso. O que Luísa queria estava aquém da minha possibilidade de conseguir trazer para lhe dar. Havia desistido da mediocridade do "ser feliz". Ao mesmo tempo que não havia nenhum motivo que a possibilitasse  ser uma grande artista. Começou a aspirar por uma grande catástrofe que a pusesse dentro do seleto grupo dos que conseguiram sem conseguir. Pode até me falar que é ousadia falar assim dos grandes, mas não considero que ser derrotado seja uma vitória. Ser derrotado e tirar proveito disso não é uma vitória, mas uma válvula de escape tão incapaz de trazer a realização quanto a própria "pseudo-felicidade". Era isso que eu não queria que ela sentisse, este trauma. Eu tentei preservar Luísa, livrá-la da maior das decepções, que era justamente a de se decepcionar quando se decepcionasse e visse a pequenez daquilo tudo. A arte não vem da felicidade, nem tampouco da tristeza: a arte vem do vazio, da ausência, da sensação de quem já viu de tudo e não se surpreende mais com nada, a arte é o nível mais doloroso que um ser humano pode alcançar. A arte é tudo que eu queria que a minha mulher não quisesse e era tudo que ela mais queria. E aí fomos vivendo, daquele jeito meio torto, meio errado, ela com a esperança que a grande derrota viria, eu com a esperança que ela mudasse. Quando dei por mim, era tarde. A minha Luísa havia se esvaziado por completo, mas não havia se tornado artista. Na minha ânsia de fazer as coisas darem certo para ela e na frustração de ver tudo desandar, algo inusitado aconteceu: nenhum dos dois alcançou o que queria, mas ambos vimos o outro alcançar. Agora eu estou com o rascunho do meu primeiro livro em mãos, Luísa está do meu lado, sorrindo, cansada e satisfeita, na porta de uma editora. Não sei se vou conseguir ser artista, ela diz que já sou, que ser um grande escritor não é vender milhões de cópias, e sim escrever uma grande história. Eu escrevi a nossa. Dolorosa, sem grandes aventuras, com algumas catástrofes, que não nos rendeu nada do que esperávamos, mas que fez de nós realizados e completos na nossa própria incompletude. 

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Da última análise

Não tem para ninguém: vulcão, tsunami, tornado, terremoto ou guerra mundial, a palavra mais perigosa de todas é “inclusão”! É traiçoeira, vem chegando que a gente nem nota, quando dá por conta já está ali, com a gente, corriqueira e cotidiana. Não há tiro de doze no meio do rosto que estraçalhe um ser humano mais que uma inclusão mal feita. Ou feita, mas de algo errado. Por isso eu me preocupo e fico sempre à espreita, policiando cada passo meu e, confesso, por vezes, cada passo de outras pessoas também. Mas fala a verdade, incluir é mesmo perigoso. Tem que ir devagar. Sempre deixar começar com um telefonema no meio da semana, depois dois, três e deixar aquilo ir se tornando uma constante e quando não acontecer se tornar estranho, como se faltasse algo. Depois piora. Você, na quarta-feira, já vai se programando para um fim de semana com o outro e sem trabalhar a hipótese de que ele não possa, por ter que trabalhar, ou já ter marcado um pôquer com os amigos, ou uma cervejada com a antiga turma de faculdade. E vai ficando mais estranho ainda. Então o tempo vai passando e os dois começam a meio que se interligar de alguma forma misteriosa, sempre pensando nas mesmas coisas, e incluem essa magia de adivinhar o que o outro quer e tudo parece fácil e óbvio, mesmo sem ser.  Inclusão deve ser um processo lento, cauteloso. Do tipo que todo cuidado do mundo ainda é pouco. E um processo bonito também. Onde alguém vai conquistando um pedaço teu e tomando uma coisa tua de uma forma tão merecida que arranca um sorriso no fim. Como se ver um outro alguém com algo que te pertencesse fizesse de você mais dele e você quisesse parabenizá-lo ou agradecê-lo por isso. Torno a dizer: é um verbo difícil, cheio de contradições e significados dotados de mais emoção que um filme do Lars Von Trier. Inclusão também é cinema, também é música, também é literatura. É pausar um livro na metade só pra pegar o celular e digitar numa sms aquele trecho que te fez lembrar do outro. É ler uma matéria legal na internet e na mesma hora enviar um e-mail com o link da reportagem. Incluir é fazer pipoca pra dois, brigadeiro pra dez e encher o coração só com um. Incluir é pedir comida sem pimenta porque o outro é alérgico, é abrir mão do sushi porque o outro não come nada cru. É ver comédia romântica e abraçar mais forte quando o casalzinho que vai ficar bem no final brigou, mesmo sabendo que o casalzinho vai ficar bem no final. É ter ciúmes também. É dar um sorriso de ar pretensioso quando aquela menina bonita e simpática demais vem falar com o teu menino. Incluir é deixar lembrete na geladeira, é telefonar lembrando de que ele lembre que marcou de ir visitar a tia avó. É ter uma outra escova de dentes do lado da tua. É colocar mais açúcar no café e na vida. É ficar de porre junto e compartilhar até da ressaca no dia seguinte. É ir na farmácia no meio da noite quando o chá não curar a febre. Incluir é feito aquele filhote de cachorrinho, que dá vontade de apertar de tão fofo, mas que às vezes bagunça tanto que você queria que ele nem estivesse ali. Então ele vem, olha-te com cara de coitado e você já quer abraçá-lo até o fim da tua vida. De toda a gramática e de todo o dicionário, acho que é a minha palavra plurissignificativa favorita. E vê quanto ao risco que lhe falei mais cedo? Incluir é quando você começa a planejar a curto prazo e quando menos percebe já imagina tanta coisa pra fazer com aquela pessoa do lado, que uma viagem de volta ao mundo não seria suficiente. Incluir é se permitir ter medo de tudo dar errado, mas não se permitir desperdiçar um segundo ao lado de alguém que lhe faz bem. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Let me take you down

Luísa acordou com frio no meio da noite. Eu estava tão cansado que, mesmo tendo o sono leve, não reparei que ela havia saído da cama. Não sei quanto tempo depois, eu senti que estava sozinho. Ainda não inteiramente acordado, abri levemente os olhos e ao constatar sua ausência de fato, levantei. Desnorteado, esbarrei na mesinha de centro ao chegar na sala. Ela estava enrolada num edredom, fumando, perto da janela, que ainda estava aberta, e sorriu quando olhou para trás e me viu, sonolento, dando pulinhos, numa tentativa frustrada de amenizar a dor no pé. Depois voltou a olhar para a janela e mudou a sua expressão facial em velocidade e proporções assustadoras. Eu cheguei mais perto, numa aproximação lenta, como uma forma sutil de perguntar se ela me queria ou me aceitava ali ao seu lado. 
- Abrace-me. Estou gelada.
Eu a abracei e de repente o edredom já embalava dois corpos ao invés de um. O vento frio entrava pelo apartamento e dava uma sensação de morte. Eu quis fechar a janela, ela pediu que não. Pediu para que eu a deixasse aberta. Que Luísa invejava aquele apartamento. Nela havia algo tão forte, tão ruim, dentro do peito, que daria a vida para que ela tivesse a opção de ter uma janela. Não tinha, não havia nenhuma forma de se abrir para que qualquer vento frio ou raio de sol entrasse. Continuava trancada. Feito o apartamento que vivera antes. Quitinete, sem janelas, nem telefone, nem nada que a conectasse ao mundo e à vida que acontecia lá fora. Então, abracei-a ainda mais forte, quando vi que Luísa levemente começava a soluçar um choro discreto e cheio de dor. E me doía tanto sentir-se completamente impotente diante à sua tristeza, que eu comecei a chorar junto dela. Mas ela me soltou, subitamente, e virou-se bruscamente para acender outro cigarro e puxá-lo a longos tragos, enquanto tentava se recompor e em pouco tempo já parecia completamente controlada emocionalmente. Adquiria um semblante perturbador de tanta indiferença. Eu fiquei ali, inerte, observando-a, chorando baixinho, tentando ser capaz de compreendê-la, mendigando ser uma pequena fresta que ligasse Luísa ao mundo e com a certeza absoluta que havia fracassado. A sensação de solidão continuava e era ainda mais forte agora, diante àquela mulher de feições tão rígidas, como se fosse inatingível. O amor é mesmo a coisa mais masoquista que penso ter vivido. Amá-la me doía a cada amanhecer. Não que ela não merecesse, ela só não era capaz de permitir que eu participasse da sua vida da forma correta. Eu sempre estive sozinho, nunca a tive de verdade. E mesmo que parecesse egoísta deixá-la, tão frágil, embora o disfarce de insensível, sinto que havia chegado a minha hora de ir. Depois de alguns minutos a olhando ali, de costas para mim, eu conclui que seria o certo, o mais sensato a se fazer. Fui ao quarto, juntei algumas coisas e, sem mais delongas, peguei o porta-retrato com a foto tirada pouco mais de dois anos antes, quando decidimos ficar juntos, e guardei na bolsa. Fui em direção à janela, dei um beijo em sua testa e disse que ia embora. Por um instante, torci para que ela me pedisse para ficar, que fizesse questão de mim. Ela continuou calada e só me olhou com olhos vazios. Aquela foi a última vez que eu vi Luísa. Dois dias depois, arrependido, sufocado de tanta ausência, voltei ao apartamento. A única coisa que encontrei foi uma louça suja na pia, um cinzeiro cheio e um trecho de Strawberry fields forever - Nothing's real and nothing to get hung about - como um lembrete colado na tv. Todas as janelas estavam fechadas. As portas de Luísa nunca haviam estado abertas para mim.