quinta-feira, 30 de agosto de 2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Do dia

De hoje em diante passei a odiar filmes e à capacidade que eles têm de fazer com que a gente se identifique com aquele personagem, justo aquele, que a gente tanto não queria parecer. Passei a me sentir enjoada por essa intuição barata de que todos os problemas do mundo são iguais. Passei a não acreditar nos finais felizes que já não acreditava tanto desde antes, mas que sempre usava para justificar os meios tristes. Passei a querer interromper os meios, inclusive. Os tristes, especialmente. Passei a ter a certeza que desacreditar pode ser a melhor maneira de conseguir viver com as próprias dores. De hoje em diante, eu resolvi voltar para mim.

domingo, 19 de agosto de 2012

About the pain. Her pain.

Eram tantas frases soltas, esquecidas e dolorosas jogadas no ar daquela sala, que Luísa não sabia a qual se ater. Sentia-se limpa. Dolorosamente limpa. De uma organização impecável, que chegava a incomodar. Saiu de casa em busca de respostas que já havia encontrado, e que clarearam na mesma proporção em que a noite se tornava mais escura e silenciosa. E se fazia dela, aquele silêncio, que tanto falava. Ventava. Tanto. Tinha dificuldade para acender o cigarro. A menor delas. A cada trago, uma constatação. A cada gole quente de vinho e a cada solo do Pink Floyd, uma nova certeza. Nenhuma alegria, ou quase. A verdade. Ainda assim, complicada. E se despia e falava de si e esperava que o motivo a que tanto se dedicava aparecesse. Mesmo sabendo, de alguma forma misteriosa e irrevogável, que não apareceria. Devia ser sua sina, aquela. Não dela. Não só dela. De uma sequência de gerações. Como ousara comparar, num riso: quase uma nova versão dos Buendía, de García Márquez. Não fazia doer menos. Ainda que tivesse a consciência dos fatos, não poderia alterá-los. Então, tornava-se fácil entender porque se entregava. Porque superestimava dores tão pequenas, aprofundava cortes tão superficiais. Justamente por querer fugir da superficialidade, por lutar por algo diferente. E a impressionava tanto, que a diferença que buscava fosse tão igual a de tantos outros, talvez por saber que não conseguiria nada além. O que poderia trazê-la mais vida que outras vidas? Mas tinha uma dificuldade anormal  em mantê-las. Até conseguia tê-las, ou quase, por tão pouco. Sempre passando perto, nunca conseguindo. Luísa queria mudar o mundo, começando pelo seu próprio. No máximo, conseguiria mudar os móveis do  seu quarto de lugar. Era uma mudança, por mínima. E se acomodou tanto, aquela moça. Como já teve mais esperança. Ardia dentro do peito a confirmação de que era tarde, por mais que fosse cedo. Que todas as oportunidades já haviam sido perdidas, mesmo precocemente. Pensava, inclusive, se aquilo era certo, aquela maturidade forçada, imposta, não só por si, mas também por si. Aprendeu a qualquer custo e o preço foi alto demais para uma mulher que nem sequer era mulher ainda. Era menina, só não sabia brincar. E possuía tantas outras Luísas que tentavam se sobrepor com historinhas bonitinhas ou com realidades paralelas. E tentava tanto continuar sendo forte, mesmo quando a vida não tinha pena de bater, estava conseguindo, supunha. Suposições... Como estas lhe doíam. As incertezas. Martirizava-se pelas incertezas. Luísa era de uma racionalidade doentia e desumana. Podia até repetir para si que talvez fosse toda amor, até seria, até o era também, mas não passava de um cérebro ativo, de uma mente a mil. De alguém que tinha a percepção de cada centímetro que afundava e que afundava cada dia um pouquinho mais. Não sabia qual dos seus figos ainda não estava podre e a figueira continuava à sua frente. Caíam. Eram muitos, mas caíam velozmente. Logo seriam escassos e ela ainda estaria ali, parada. E meu Deus, eu não tenho nem vinte anos e já desisti de ser feliz. O figo caiu, Luísa não tinha culpa, estava podre. Tinha outros... Não condiziam, qual será o certo? Vanessa, ajude Luísa, por favor. Vanessa, tenha pena dela, ajude-a! Aquele da esquerda pode ser o mais indicado, está mais fácil de pegar. É pequeno, pegue outro, Luísa. Você só pode escolher um. A escolha foi feita, agarre-o. Não desista ainda, Luísa! Busque uma escada, pegue o figo certo, não escolha os mais baixos, estes não são pra você. Corra, ainda é tempo. Suba na árvore, você já caiu antes, corra! Não brinque, Luísa, você não é menina, seja mulher. Seja mulher uma vez na sua vida! São tantos figos, só um é fácil. Nem tanto. Ela tenta pegar, escorrega, foge dos seus dedos, parecia pequeno mas é grande demais para os dedos finos daquela menina-mulher. É esse. Só pode ser ele. Não vou soltá-lo. Não vou deixar que você o solte, Luísa. Daqui a trinta anos, se você não tiver nada, você poderá tê-lo, ainda. Tenha. Não deixe esse figo cair. Segure algum, segure este. É o menos apetitoso, é o único que você será capaz de comer. É o seu, mesmo que não pareça agora. Segure-o, fará sentido.

sábado, 18 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dark side of the Rainbow

Era daquelas meninas-sínteses, mal do século, resultado das quebradas de cara anteriores, quase genéricas no ano em que estamos. Das que muito sabem - ou fingem saber - dos outros, enquanto, de si, sabem pouco ou nada. E ela, exatamente neste molde, não sabia sequer se sabia. Mas, mesmo dentro da sua generalidade, era peculiar. Possuía duas características que lhe diferiam das demais: coragem e ousadia. E como era ousada, quando empinava o nariz e saia toda arrumadinha e independente por aí, sem precisar de ninguém nem de nada, só dos seus passinhos apressados dentro dos sapatos vermelhos. Uns fones com o Dark side of the Moon eram suficientes para a fazerem se sentir a Dorothy. E era corajosa cada vez que sentia seus problemas menores do que o que realmente eram, mesmo que alguma parte dela gritasse incansavelmente que ela não estava preparada para enfrentar nada. Estaria. Sempre estava. Minha Dorothy não era do tipo que se entregava fácil. Era do tipo que sabia que, mesmo que não resolvesse, aquela velha dose de vodka na beira da lagoa a faria se sentir melhor e boa o bastante para tentar de novo. E tentava. Também incansavelmente. E podia até se machucar a cada queda, que ainda iria se reerguer. Nem que fosse pra cair de novo. Qualquer segundo em pé já seria melhor que outro no chão. Não passaria a vida esperando alguém chegar para levantá-la, tinha pernas para isso. E recebia críticas, dos poucos que tinha. Cada um tentando, do seu modo, colocar um pouquinho de juízo na cabeça da menina inconsequente que media as consequências, paradoxalmente esperta ou ingênua. Duvidava acreditando em si. E tinha frases perfeitas, que encaixavam perfeitamente dentro de toda e qualquer história que alguma de suas amigas - também genéricas - contavam. Entendia. Já tinha doído aquilo em si. Mas, quando a dor passava, aquilo tudo parecia ter sido lido em algum lugar, as cicatrizes se esvaiam. Não tinha mais medo de arriscar, talvez por não ter nada a perder. Então aumentava o volume em Brain Damage e seguia aquela estrada de tijolos amarelos, por enquanto não tão clara quanto ela queria, mas que seria a única capaz de levá-la a algum lugar.  

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Talvez, tal vez, aquela vez...

"Se você hesita é porque pensa a respeito, nem que seja por um segundo. 
Se pensa a respeito é porque existe uma chance."

domingo, 5 de agosto de 2012

Contrapartida

Luísa era especialmente nostálgica aos domingos. Neste domingo, fora ainda mais que nos outros. Nos últimos dias havia sido tomada por uma sensação indescritível e indiscutivelmente incômoda. Sentia-se fugindo de si, ao buscar algo que estava aquém, mas que lhe era indispensável. E doía essa ausência do desconhecido. Esta necessidade. Para ela, "precisar" sempre foi a palavra mais forte de todas, maior que qualquer amor ou qualquer ódio. Indicava dependência. Dependência a assustava. Dizia-lhe o dicionário que depender era estar subordinado, estar sujeito. Na prática era ainda pior. O que poderia ser mais preocupante que estar subordinada e sujeita a algo que não conseguia sequer descobrir o que era? Havia passado uns bons dias buscando respostas incessantemente, sem encontrar nada que lhe fosse válido. Andava em círculos. Como se a cada uma das vezes que julgasse estar perto da descoberta da sua vida, perdesse o equilíbrio e caísse exatamente do lado oposto. E achou uma razão, duas, três... nenhuma foi capaz de convencê-la. Virava doses como água, na esperança que o álcool a fizesse desfocar o pensamento, mas o efeito era inverso. Luísa esquecia de tudo, lembrava apenas do que tentava fugir: da dúvida. E esta dúvida que a consumia não tão silenciosamente quanto ela desejava, a estava destruindo vorazmente. Sentia-se letárgica. De uma morbidez que causava pena. E dentro das suas diversas horas de sono, um sonho, feito um presente, foi capaz de abrir seus olhos para tudo que a rodeava e para aquilo que rodava tanto dentro de si própria. Luísa sabia da sua aflição. Sabia de si. Mesmo que não dependesse apenas dela colocar as coisas em ordem, aquela informação causou na menina uma profunda paz. Como se aquela tempestade que imaginara pouco antes, não passasse de uma garoa que, mesmo sendo levemente irritante, seria fácil de contornar, bastava apenas focar no que importava. Aquilo era secundário. Passou dias entregue a uma dor baseada no secundário. Algo dentro dela tentava se manifestar, fosse em forma de raiva ou de calma. Mas agora tinha o controle, tomara as rédeas de novo, era toda calmaria. Bastava querer. E queria. E nada causaria em Luísa um alívio maior que ter o controle. Saber onde estava pisando era maravilhoso. De resto, continuaria a levar seus dias como uma partida de xadrez. Tentando prever as próximas três jogadas, estrategicamente traçando seu próprio destino. Nem se importava que as circunstâncias não estivessem a seu favor, ela estava, só precisava de si, só dependia de si. E era toda dela. Luísa havia voltado. Desta vez, feliz.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Conversa de botequim

- Sabe, talvez esse tempo, essa situação meio comum e meio inusitada, essa incerteza, tudo isso, esteja servindo para eu começar a enxergar a minha vida sob outro prisma.
- Qual?
- Não sei. Mas eu posso sentir que a chance tá aqui, mesmo que eu ainda não a tenha alcançado.
- E por que não começa, sei lá, a tentar agarrar isso?
- Eu tentei outras vezes. Tenho medo de escorregar de novo. Eu só torço para que, um dia, eu possa levar uma vida normal, como as outras pessoas parecem ter. Que esse nó na garganta se desfaça, de um jeito ou de outro. Só torço por isso. Que ser instável deixe de ser meu estado de estabilidade.
- Um dia chega.
- Não consigo ser tão otimista.
- Eu gosto de ter esperança.
- Já me frustei demais. Esperança é o primeiro passo pra quebrar a cara.
- Eu sou frustrada demais. Se não me apegar à ideia de que as coisas vão melhorar, de algum jeito, algum dia, eu me jogo na frente de um caminhão ainda amanhã.
- Não tá tão tarde, o próximo ônibus passa daqui a meia hora, topa?
- Engraçadinha.